The Walkmen - You & Me (2008)


Mais uma bandinha interessante que me apareceu essa semana, enquanto via um intervalo comercial da MTV. Vislumbrei, meio que sem querer, 15s de uma música do The Walkmen, que nem lembro mais qual é. Mas o folk suave e uma voz rasgada que muito me lembrou uma mistura de Perry Farrell (Porno For Pyros e Jane's Addiction) com Bob Dylan captaram a minha atenção. Corri no YouTube e catei um clipe qualquer deles, dando de cara com "In The New Year", que mostra cenas de uma película antiga misturadas a imagens do vocalista Hamilton Leithauser em ação. Pra mim, é a melhor música do disco, pelo seu belo riff do refrão e vocal primoroso, vigoroso de Leithauser.

Comparando com outras bandas que tenho ouvido ultimamente, o Walkmen não tem muito de novo a oferecer. Band Of Horses, I Am Kloot e outras que agora não lembro também soam intimistas e distantes em suas músicas. Mas isso não tira um pingo de competência dos caras, que mantém uma regular soturnidade ao longo de todo o disco. Como diferencial, os caras preferem usar instrumentos antigos para dar mais autenticidade à forma que eles pretendem soar. Mas o grande destaque, de fato, é Leithauser e sua voz qualquer-coisa-menos-apática. Mas também vale destacar como o som da banda parece sair de um inferninho num subsolo qualquer sem que nunca tivesse havido público algum para assisti-los. O vazio preenche todo os espaço que há entre os instrumentos.

Essecialmente, um disco depressivo, nas letras e composições. Esse é pra ouvir trancado no quarto na virada do ano, pros que acham que 2010 vai ser uma merda tão grande quanto os demais anos passados. Claro que a faixa da virada é exatamente "In The New Year".

01. Donde Está La Playa
02. Flamingo (For Colbert)
03. On The Water
04. In The New Year
05. Seven Years Of Holiday (For Stretch)
06. Postcards From Tiny Islands
07. Red Moon
08. Canadian Girls
09. Four Provinces
10. Long Time Ahead Of Us
11. The Blue Route
12. New Country
13. I Lost You
14. If Only It Were True

Saca lá nos comentários.

Warrel Dane - Praises To The War Machine (2008)

Warrel Dane já está beirando a casa dos 40 anos. E se lembrarmos que, desde 1981, as bandas Serpent's Knight, Sanctuary e o Nevermore (um dos gigantes do Heavy Metal), tiveram o cara no comando dos vocais, atestamos que a idade só tem dado mais poder e criatividade para o poderoso rapaz nascido em Seattle.



















A idéia de lançar um CD solo já é antiga por parte de Warrel Dane. Antes de “This Godless Endeavor” (2005), último disco do Nevermore, o cabeludo com voz melosa e fã de uma boa cerveja já tinha em mente um disco só dele, com algo mais “light” do que o praticado na banda principal. Assim como o novo disco do Nevermore está sendo produzido, não exigindo ainda muito do vocalista, Dane teve tempo suficiente para trabalhar na nova empreitada. Chamou uns amigos e colocou a cabeça e as mãos para trabalhar.

Fabuloso letrista, Warrel Dane conseguiu, novamente, fazer poesia, brincar com as palavras e ao mesmo tempo colocá-las em um arranjo bem Heavy Metal. As músicas são bem mais leves em consideração ao trabalho no Nevermore, mas não deixam de ser atrativos para os fãs de longa data. Até mesmo devido à maior virtude de Warrel Dane, que é a impostação e a emoção com que ele canta. Dá para imaginar o cara na maior gritaria ao microfone, segurando o pedestal com as duas mãos, como se fosse a última coisa que ele pudesse fazer na vida.

When We Pray”, música de abertura, já passa bem qual a mensagem que o vocalista quer mostrar neste primeiro cd solo. Refrão pegajoso, pegada tradicional do Heavy Metal e uma canção que gira em torno da letra e da forte interpretação do autor. Tudo meticulosamente dosado para que o ouvinte tenha a certeza que não está ouvindo mais um disco do Nevermore, mesmo que em marcha mais lenta.

Warrel Dane teve a brilhante idéia de chamar os guitarristas Jeff Loomis e James Murphy para incrementar algumas músicas. Jeff fica com o solo de “Messenger”, segunda música do disco, e dá para perceber que esta parte realmente lhe caiu bem. Já James Murphy, produtor que fez uma ponta em “This Godless Endeavor” fica com o solo de “The Day The Rats Went To War”, oitava faixa do disco, possuidora de um refrão bastante simples, mas muito bonito.

O disco trás grandes surpresas, como o cover de “Lucretia My Reflection”, música da banda britânica Sisters of Mercy, que se encaixou muito bem no contexto do álbum, sombrio, mas ao mesmo tempo gostoso de ouvir. A balada “Your Chosen Misery”, dá uma desandada, principalmente pelo ar melancólico. Na parte final do CD, vem outro cover: “Pattherns” do músico norte-americano Paul Simon, que também surpreende pela adaptação.

Oficialmente, a banda é formada por Warrel nos vocais, Matt Wicklund na guitarra, Dirk Verbeuren na bateria e Peter Wichers na guitarra. Os dois últimos são ex-integrantes da banda sueca Soilwork, sendo que ao último coube a mixagem e produção do disco e a gravação do baixo. São músicos competentes e com uma tarefa difícil: agradar Warrel Dane, que vinha desde anos pensando nesta produção que leva o nome de um dos mais brilhantes vocalistas de Heavy Metal da atualidade.

Dê uma olhada.

Septic Flesh - Communion (2008)

Nunca ficou realmente claro o motivo de uma das mais criativas bandas do underground grego ter encerrado suas atividades em meados de 2003, depois de uma trajetória de 13 longos anos em prol da música extrema. O Septic Flesh havia liberado nesse momento um ótimo registro chamado "Sumerian Daemons" e logo depois, simplesmente anunciou seu fim.


Mas eis que, felizmente, em 2007, a carne se renova... Spiros 'Seth' (voz e baixo), Christos Antoniou (guitarra) e Sotiris Vayenas (guitarra) decidiram voltar ao cenário com planos grandiosos para seu novo registro. E "Communion" é o fruto que marca o retorno do Septic Flesh com todas as honras possíveis, mostrando que a ambição sempre exibida em seus discos continua em alta.

E põe em alta! Para esta gravação foram utilizados os serviços de uma orquestra composta por 80 músicos e 32 cantores, orientada por ninguém menos do que o próprio guitarrista Christos Antoniou. Assim sendo, muito da estética de seu último álbum agora está envolvida por toda uma dinâmica até então inédita mesclada à peculiaridade de seu rico Death/Black Metal.

As músicas são simultaneamente intrincadas e pegajosas, tendo em “Lovecraft's Death” uma perfeita abertura. Vale mencionar ainda a própria “Communion” e “We The Gods”, duas faixas onde tudo é muito denso e distorcido, além de ocasiões ainda mais épicas como “Sangreal”, “Narcissus” e “Anubis”, esta última sendo a melhor música disparada do CD, e uma das melhores de todo o ano de 2008, com ótimo trabalho de vozes.

Durante a audição se observa a brutalidade do Heavy Metal extremo, a atmosfera bombástica da música clássica e ainda a aplicação de contrastantes melodias leves e muito bonitas. Extravagâncias à parte, “Communion” mostra que o versátil Septic Flesh ainda tem muito a oferecer ao público, sendo um disco altamente recomendável a quem aprecia bandas como Behemoth, Dimmu Borgir ou o clima meio ‘hollywoodiano’ que o Therion tem elaborado em seus trabalhos mais recentes.

Excelente!

Neon Indian - Psychic Chasms (2009)


Quando eu nasci, nos anos 80, nunca pensei que ouviria tanta merda na música. Muito do meu repertório auditivo deve-se ao meu irmão, que tirou vantagem de tão bregas anos. Mas, por mais horripilante que a época tenha sido, ela tem um diferencial em relação às demais décadas que vivenciei: o fator nostalgia. Vamos lembrar de Depeche Mode, Erasure, Duran Duran, Eurythmics e outras bandas que atravessaram o período com seu synth pop. Mas também vale guardar um espaço para as one hit wonders, tão presentes naquele tempo como hoje. Aquelas bandas que você conhece uma música, mas sempre tem uma certa dificuldade para dizer quem toca. Daí, mais do que a ausente qualidade que elas evocam, elas nos fazem lembrar da infância, de todas as coisas do meu tempo, desde telefone de disco e fitas K-7 até seriados japoneses e confeito Xaxá.

Eu não lembro do contexto em que as músicas dos anos 80 estavam inseridos. Mas eu lembro de que elas passaram por meus ouvidos enquanto eu brincava na rua ou fazia tarefa de casa. E eu nunca parei para analisar nenhuma delas, elas simplesmente invadiram meus miolos e lá ficaram. Passado o grunge dos anos 90 e todo meu preconceito musical extenso, comecei a nutrir meu coração mole de mãe e deixei de filtrar tanto as músicas que aconteciam. Então, passei a buscar praticamente tudo o que eu lembrava dos anos 80, e não foi pouca coisa. Ficou tudo espalhado em várias pastas, CD's e DVD's. E é engraçado como praticamente não baixei nenhum disco inteiro da época, apenas os hits, pois era o máximo que aquelas bandas conseguiam emplacar.

E eis que, no meu garimpo, baixei esse disco e nem lembrei disso, até ontem. Não fazia a menor ideia do que se tratava e resolvi ouvir. Eu fui no passado e voltei, e com uma autenticidade assustadora. O Neon Indian não é um projeto com influências dos anos 80. Ele É um disco dos anos 80, com direito à toda parafernália eletrônica analógica, cores berrantes e sintetizadores boiando por todas as faixas. O toque genial da coisa é a sonoridade desse disco, totalmente rádio AM ou toca-fitas Phillips ou outra coisa parecida.

Eu não sei se as possibilidades musicais realmente já se esgotaram, mas o revival proposto pela banda é extremamente positivo pelo fato de conseguirem reproduzir aquelas músicas tão bem. Várias bandas se embebedam de anos 60 e 70 até hoje. Até de anos 80 também, mas eu nunca vi alguém que embarcasse num Delorean e trouxesse de volta um disco tão característico. Sem dúvida, uma das coisas mais agradáveis que podiam ter feito neste fim de anos 2000.

01. (AM)
02. Deadbeat Summer
03. Laughing Gas
04. Terminally Chill
05. (If I Knew, I'd Tell You)
06. 6669 (I Don't Know If You Know)
07. Should Have Taken Acid With You
08. Mind, Drips
09. Psychic Chasms
10. Local Joke
11. Ephemeral Artery
12. 7000 (Reprise)

Top 20 - #17 - Tuatha de Danann - Trova de Danú (2004)

O Tuatha de Danann já é reconhecido como um dos grupos mais criativos e talentosos do cenário nacional. Trova de Danú não é apenas o melhor disco da banda até agora, mas é a maior prova de que com um pouquinho de dedicação é possível vencer as limitações impostas a quem faz música de forma independente e não se dispõe a fazer concessões em nome do sucesso.

O Tuatha mudou de gravadora, mas a sonoridade continua intacta e mágica como na época das demos, com apenas um diferencial: a natural evolução técnica dos músicos e a ampliação do uso de instrumentos exóticos para conduzir o ouvinte numa viagem pelo folclore celta. Tudo isso feito com muito amor pelo Heavy Metal e muita dedicação por parte dos músicos.












É muito difícil não gostar desse disco logo de início. A música conquista de imediato, mesmo aqueles que não são entusiastas do Folk Metal. Aliás, nem só de Folk Metal é feita a música do Tuatha. Nesse trabalho, as influências do Doom Metal praticamente desapareceram, mas a pegada Jethro Tull que a banda sempre teve está ainda mais forte.

“Bella Natura”, a faixa que abre o disco é veloz e pesada, mas com uma atmosfera “pra cima” que contagia até o mais mal humorado dos headbangers. “Lover of the Queen” tem uma pegada mais épica, portanto, mais característica dos trabalhos anteriores da banda. A interpretação de Bruno Maia é magistral nessa faixa. “Land of Youth” é a faixa mais Skyclad da carreira do Tuatha. Violões em profusão e aquela batida rapidinha, mas bem reta (ouve-se até um banjo nessa música. Muito legal mesmo). A própria deusa Danú aparece para cantar em “De Dannan’s Voice” e o resultado é, no mínimo, indescritível. “The Land’s Revenge” é uma das minhas favoritas pelo fato de ser despretensiosa e lindíssima ao mesmo tempo.

As flautas de Bruno estão em destaque aqui e toda a banda fez um excelente trabalho numa faixa melódica e muito pesada, talvez até lembre um pouco a nova fase do Angra, mas nada muito explícito. O disco segue com faixas maravilhosas como “Spellboundance”, “Believe: It’s True” e a impressionante faixa-título, dentre outras.

Difícil encontrar defeitos num disco que transborda honestidade e feeling. O meu maior medo era que o Tuatha começasse a aliviar o “delírio” contido nos trabalhos anteriores em nome de uma maior facilidade de penetração na grande mídia (sem trocadilhos infames, por favor). Mas, para a sorte de nós, fãs do trabalho único dessa banda, isso não aconteceu. Ao contrário, como eles prometeram no disco anterior, o delírio está apenas começando.


Here!

Omar Rodriguez-Lopez - Solar Gambling (2009)


O porto-riquenho é o líder do Mars Volta, excelente guitarrista canhoto e hiperativo. Além de gravar com a banda, encontra espaço e acordes para gravar uns 3 discos solo por ano. O mais recente é esse Solar Gambling, onde ele mantém a pegada assimétrica e tende ao experimental. Com mais liberdade para trabalhar do que tem no Mars Volta (como se precisasse), ele adiciona vocais em espanhol e melodias totalmente dissonantes. Mas tudo soando ainda muito familiar, desde as distorções usadas aos vocais de Ximena Sarinana, namorada do moço, que em alguns momentos lembram o timbre do parceiro velho de guerra, Cedric Bixler-Zavala.

Mas apesar das semelhanças, seu trabalho solo parece mais guitar-focused, semelhante ao do seu amigo John Frusciante. Ele parece querer explorar mais as nuances do instrumento que por tanto tempo detestou. Por isso abusa dos pedais, os quais ele começou a ver como aliados em sua guerra contra a guitarra, pois seu objetivo era fazer com que o instrumento soasse como qualquer coisa diferente dessa coisa que ele odeia: a própria guitarra.

Comparado com seus trabalho anteriores, esse é bem mais acessível, algo como o disco de baladas do Omar. Mas o que importa é que o cara é realmente foda, para conseguir compor tanto para tantos, considerando que ele produz qualquer coisa muito além dos três-acordes usuais das bandas atuais.

01. Locomocion Capilar
02. Las Flores Com Limón
03. Colmillo Castrado
04. Un Buitre Amado Me Pico
05. Poincaré
06. Los Tentáculos De La Libélula
07. Miel Del Ojo
08. Lorentz
09. Vasco Da Gama

Darkwood - Ins Dunkle Land (2009)

Tá estressado? Nervoso? Quer relaxar sem ter que recorrer à remédios "sérios" ou a maracujinas da vida? Aqui vai um conselho: Já ouviu falar em NeoFolk? Não? Pobre animal. Mas Mau Mau vai lhe salvar, viu filhinho?

Não lembro se já explanei o conceito de NeoFolk aqui. Por via das dúvidas, lá vai. É da wikipédia, mas fui eu quem o colocou lá: Neofolk é um dos desdobramentos do Folk Music, que surgiu primeiramente na Europa, com influencias de músicas de cunho Industrial. O Neofolk pode ser tido como uma música folclória acústica ou uma mistura de instrumentos acústicos do meio folk, acompanhada por uma variedade de sons como pianos, harpas, violão clássico e elementos da música industrial e experimental.

As bandas que são consideradas os carros-chefe do estilo são, ao meu ver, Of The Wand & The Moon, que vai aparecer aqui uma hora dessas, Sol Invictus, Darkwood Current 93 e Death In June, todos com as características expostas acima.

Este novo trabalho da banda em questão é descrito pelo mentor da banda, Henrik Vogel, como uma tormenta em terras obscuras. Um projeto que surgiu da idéia de expressar o amor que sentimos pela pátria onde nascemos [Alemanha], e sobre como nos identificamos com ela. A música é uma fusão de temas tradicionais e paisagens sonoras. Instrumentos acústicos bem utilizados, bem como os ruídos sintéticos e vocais em inglês e alemão.

O grande diferencial do Darkwood é produzir um disco de NeoFolk sem soar chato depois da terceira faixa. A faixa 02, Caucasian Tales, é a mais bela do CD, falando da chegada da primavera, e da vida brota na mundo, em contraste com a morte dos humanos, que não tem os quatro ciclos da natureza. Tudo isso regado a violões, um distante sintetizador, e o vocal de Vogel.

Não se engane: Não é música de Jack Johnson, que é cute-cute e faz as pessoas realizarem luais na praia, só pra ouvir "Upside Down". É um material do mais refinado bom gosto, prazeroso de se ouvir, de preferência tomando algo que preste.

Mais uma obra prima de músicos alemães, que desde o aperfeiçoamento do conceito de ciência (tanto as duras, quanto as sociais), mostram-se muito à frente de outros, no quesito "abstração."

Viaja!

Between The Buried And Me - The Great Misdirect (2009)

O Between The Buried And Me é uma banda americana do chamado math rock, que tem influenciado muitas bandas atualmente. Pra mim, é mais uma vertente indie do metal. Todas as assinaturas estão lá, os riffs complicados e fluídos das guitarras, e estruturas de composição que muito se assemelham a fórmulas matemáticas. De fato, os caras que investem no estilo procuram mesmo fórmulas em que possam basear suas composições, como fez o Tool ao explorar exaustivamente a sequência de Fibonacci, onde um número é conseguido através da soma do atual com o anterior (1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55...), no Lateralus. O Between soa muito parecido com o Children Of Nova, que entrará aqui em breve, com a diferença de contar com vocais mais rasgados, death (ou qualquer outro metal que o valha. Esse não é meu departamento), e aí eles ficam mais semelhantes, talvez, a um Meshuggah.

O álbum tem 6 faixas, sendo uma com 9 minutos e outras 3 passando dos 10 minutos. Engraçado como os caras conseguem ir de um ritmo mais melancólico, próximo ao Tool, ao peso extremo-dois-pedais de um minuto a outro ("Disease, Injury, Madness" é um bom exemplo). Musicalmente, são muito ricos e parecem manjar do riscado. Talvez apenas o vocal gritado seja desnecessário em algumas passagens. Mas é lindo ver a batida quebrar tantas vezes dentro de um mesmo riff, provocando um choque rítmico. Bom disco pra esse fim de semana.

Só uma curiosidade: o nome da banda foi inspirado, inesperadamente, num verso da (bela) música "Ghost Train", do excelente Counting Crows (lembra da música do Mr. Jones? Pois é).

Took the cannonball down to the ocean
Across the desert from the sea to shining sea
I rode a ladder that climbed across the nation
Fifty million feet of earth between the buried and me

01. Mirrors
02. Obfuscation
03. Disease, Injury, Madness
04. Fossil Genera - A Feed From Cloud Mountain
05. Desert Of Song
06. Swim To The Moon

Opeth - Ghost Reveries (2005)




















O que esperar de uma banda como o Opeth depois de tudo o que eles já fizeram? Boa pergunta não é mesmo? Digo ainda mais um detalhe, o que esperar do Opeth com mais um integrante efetivo na banda? Per Wiberg (teclados), o mesmo que gravou o Damnation e saiu em turnê com a banda pelo álbum como músico convidado teve seu trabalho tão apreciado por Akerfeldt que agora ele é membro oficial da banda. Sim agora a banda possui 5 músicos!

Imaginem um Blackwater Park (melhor disco da banda) com teclados, um pouco mais progressivo e com passagens acústicas mais presentes ainda, mas mesmo assim mantendo o peso do Death Metal. Imaginem um álbum totalmente coeso com uma maturidade ainda maior, esbanjando criatividade, feeling, peso, técnica, melancolia. Sim, essa é a cara do Ghost Reveries.

O álbum já começa com um banquete a la Opeth: Ghost Of Perdition tem o peso característico, vocais guturais, passagens acústicas muito bem trabalhadas com arranjos de teclado.

Em seguida temos The Baying of The Hounds, outra música bem no estilo da cozinha da banda, nota-se nessa música solos muito bem feitos, passagens acústicas lindas, riffs bem elaborados nas partes de peso, acompanhamento do teclado coeso e bem encaixado.

Beneath The Mire já começa a mudar a cara do álbum, cada vez mais se nota a diminuição das vozes guturais e as passagens acústicas são mais presentes do que as partes de peso. O final dela é lindo, bem progressivo, com sons sintetizados diferentes, coisas jamais vistas no Opeth, até então.

Agora chegamos no que eu chamo de progressividade: Atonement nos remete ao Damnation, mas a riqueza dessa música está além do que eu jamais vi no Opeth, tem tanto detalhe, tantas frases lindas que provavelmente se esta música estivesse no Damnation seria considerada o diferencial do álbum. Sim essa música é uma balada com tudo o que se tem direito, talvez a mais bela melodia calma do Opeth já escutada por mim até hoje.

Reverie/The Harlequin Forest, forte candidata a melhor música da banda, com certeza a melhor do álbum. Essa música tem um ar diferente das músicas pesadas do Opeth. Ela tem um peso forte, misturado com uma melodia sem igual, mas a voz nessa música é mais marcada pela voz normal do Mikael, e não a gutural apesar de aparecer em certas partes também. Mas partes acústicas também são notadas e a melodia dela é impressionante, partes progressivas de maneira jamais criadas pelo Opeth são notadas nessa música também, partes que remetem ao Damnation de certa forma também pelo uso do teclado.

Hours of Wealth é linda, dedilhados característicos da banda, mais uma balada fortemente influenciada pelo Damnation e também de baladas anteriores da banda, o teclado de Per caiu como uma luva, e o resto da banda também como sempre.

The Grand Conjuration é um Doom/Death Metal de primeira categoria, o teclado na parte de peso deixou a música bem sombria, ótima performance da banda, música sinistra, belíssima, bem na cozinha Opeth, peso, quebradas, passagens acústicas, vocais guturais, vocais normais, e agora temos que nos acostumar, teclado fazendo bases assombrosas.

Isolation Years é mais uma balada belíssima com ótimos arranjos, ótima composição para fechar o álbum com chave de ouro provando mais uma vez que o Death Metal tem seus representantes de muita sensibilidade e criatividade e que o Opeth é uma das melhores bandas dos últimos tempos.

Esse álbum é simplesmente genial, e mostra a banda no auge da sua maturidade, e do processo criativo de Akerfeldt.

Obrigatório!

The Beta Band - The Three EP's (1998)


Como chamar uma banda que toca um folk-rock-eletrônico fincado nos alicerces do experimental? The Beta Band, claro. Nome mais perfeito, rapaz. Soa como uns donzelos em busca da batida perfeita (Marcelo D2 procura a pobre até hoje. Não, ainda não encontrou), ainda que pra isso naveguem por mares bizarros. A banda beta dá enorme preferência ao instrumental, esquecendo quase sempre de colocar vocais. Mas não é porque são ruins, não. É viagem da cabeça deles. Eles conseguem passar de experiências batiqueiras como em "I Know" e "B+A" para o hippie folk tranquilão de "Dog's Got A Bone" com a naturalidade de uma troca de canais num controle remoto. Delícia de música.

Só contextualizando, esse The Three EP's, como o nome diz, é uma compilação de 3 EP's lançados pela banda nos anos 90. Os caras conseguiram um certo sucesso no Reino Unido, mas era praticamente anônimos nos Estados Unidos. Bom, fodam-se eles e a mania de só olhar pro próprio umbigo. A banda se desmaterializou em 2005, com cada membro da banda tomando rumos diferentes. Eles ainda lançaram 3 álbuns antes da dissolvição.

Mas o importante é que deixaram um legado acima da média da música produzida na época e atualmente. É dessas bandas folclóricas que somem sem motivo aparente e ficam apenas no imaginário dos poucos que tiveram o privilégio de acompanhá-la e daqueles que seguiram o boca-a-boca.

Um bom exemplo da musicalidade excepcional da banda é "Dry The Rain", pra mim, uma das melhores músicas pop da história (consta no filme Alta Fidelidade). Começa lenta, batidinha e violão e toma ares de fanfarra ao ser invadida por um fenomenal naipe de metais do meio pro fim.

Em breve, mais dos caras.

01. Dry The Rain
02. I Know
03. B+A
04. Dog's Got A Bone
05. Inner Met Me
06. The House Song
07. Monolith
08. She's The One
09. Push It Out
10. It's Over
11. Dr. Baker
12. Needles In My Eyes

Katatonia - The Great Cold Distance (2006)

Não é muito necessário tecer qualquer tipo de comentário introdutório a respeito do Katatonia. Alcunhas como "Reis do Doom" ou "Doom Masters" são alguns dos chamamentos que a banda recebe.

O "Great Cold Distance" foi o 7º trabalho de estúdio dos suecos, e mostrou uma banda mais leve, sem o peso arrastado do clássico absoluto, e até hoje melhor disco da banda, "Dance of December Souls". Mas isso em nada retirou a qualidade do som, e sim a eterna busca das bandas prolíficas em aperfeiçoar ou evoluir dentro do seu trabalho.

Aqui os vocais límpidos de Jonas Renkse são usados em sua totalidade. O disco não possui nenhuma passagem de vocal gutural, nem nada parecido com isso. O que dá pra notar é que todo o peso foi propositalmente transpassado para as guitarras, com afinação baixa, dando total prioridade aos graves, fazendo o trabalho soar pesado, arrastado, mas sem se tornar repetitivo.

Os destaques dentro do CD são muitos (diria 95% das músicas), mas as melhores são My Twin, que tem um clipe pertubador, com Jonas cantando numa afinação baixa, e ao mesmo tempo, forte, assombroso. Outra é July, onde se dá preferência ao jogo de guitarras, produzindo um hit, se é que pode se chamar assim. Por fim, Deliberation, que tem o melhor refrão de todo o disco.

Pra mim, o segundo melhor trabalho do Katatonia, atrás apenas de um disco sobrenatural, que nem deveria contar.

Tracklist:
1. Leaders 04:21
2. Deliberation 04:00
3. Soil's Song 04:12
4. My Twin 03:41
5. Consternation 03:51
6. Follower 04:46
7. Rusted 04:21
8. Increase 04:20
9. July 04:45
10. In The White 04:54
11. The Itch 04:20
12. Journey Through Pressure 04:21

Download.

MGMT - Oracular Spetacular (2007)


Diante de um certo marasmo que atingiu a música nesse início de década-século-milênio, parece que qualquer um que tenta algo apenas um pouco diferente do que o resto anda fazendo, merece destaque, atenção e babação da mídia. Os atuais queridinhos da imprensa tem sido a dupla americana Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden, que formam o MGMT. Com um pé descalço no flower power dos anos 70 e o outro chacoalhando no synth pop dos anos 80, eles conseguiram o grande mérito de fazer música pop acessível e - o mais importante - de qualidade. Pode ser que seja eletrônico, algumas vezes rock, tanto faz. O que importa é que eles divertem, entretem e causam uma boa impressão, no final de tudo.

E foram tão competentes que conseguiram figurar simultaneamente em pistas de dança e festivais indie. Em 2008, esse Oracular Spetacular foi eleito o melhor álbum do ano pela renomada NME. Essa semana, foram nomeados para o Grammy 2010 como Melhor Performance Pop Por Uma Dupla Ou Grupo Com Vocais (criaram essa categoria pra eles?) com a música "Kids". Já os tinha citado aqui, no "Embryonic" do Flaming Lips, onde eles participam em uma faixa. Paul McCartney já é fã dos caras. E não que isso seja importante, mas eu também.

A verdade é que eles criaram um disco dançante, com algumas pérolas pop, viajando entre diversos estilos, instrumentos, batidas. Ouvindo, verás que toda a babação tem sentido.

01. Time To Pretend
02. Weekend Wars
03. The Youth
04. Electric Feel
05. Kids
06. 4th Dimensional Transition
07. Pieces Of What
08. Of Moons And Birds And Monsters
09. The Handshake
10. Future Reflections

Top 30 | #26 | David Bowie - Let's Dance (1983)


Quase sempre a crítica associa o nome David Bowie ao chamaeleonidae, vulgo camaleão, e esquecem quase que completamente da competência do sujeito pra fazer música. Mas isso é normal. Afinal, chamar Bowie pelo seu alter-ego réptil demonstra conhecimento de causa. Não trata-lo assim certamente vai fazer a reputação do sujeito cair. "O cara escreveu um texto inteiro sobre David Bowie e não o chamou de camaleão! Que heresia!" Que merda, eu diria. Tantos e tantos artistas por aí tiveram mudanças tão ou mais significativas que o inglês e ninguém falou nada. Aliás, tantas mudanças no estilo ao longo da carreira não me parece nada absurdo, tendo em vista a sua longa, longa carreira.

Let's Dance é um dos melhores que Bowie já gravou, apesar da discordância de alguns energúmenos da imprensa que gostam de pegar no pé do (já não tão) pobre homem. Os anos 80 foram mais divertidos do que ricos musicalmente, e isso é fato, mas não impediu de gerar essa coleção de hits, comprovado pelo excelente desempenho do álbum nas paradas (#4 nos indiferentes EUA e #1 no Reino Unido, Austrália e Noruega), além de emplacar a faixa-título em 1º lugar no mundo todo.

Aqui, Bowie mostrou como é fácil criar um sucesso, desde a simplicidade demasiadamente pop de "Modern Love" até melodias mais intrincadas como a quase militar "Ricochet". Com Iggy Pop dando uma palhinha, conseguiu tornar célebre a música "China Girl" mundo afora.

Do time que o cara convocou para tocar no disco, o grande destaque é, sem dúvidas, a participação de guitarrista Steve Ray Vaughan, que deu um toque blueseiro às músicas. A baladinha "Without You" é um bom exemplo disso. "Ricochet" ganha como a música mais densa do disco, enquanto "Let's Dance" e "Cat People (Putting Out The Fire)" são as anima-festas.

Disco bom pra se ouvir quase o tempo todo. Não envelhece e não enjoa.

01. Modern Love
02. China Girl
03. Let's Dance
04. Without You
05. Ricochet
06. Criminal World
07. Cat People (Putting Out The Fire)
08. Shake It
09. Under Pressure *

* Sim, sim. Essa é a versão que vem com "Under Pressure", gravada com o Queen, de bônus.

Let's dance?
Senha: bluavlk01

Guns N' Roses - Chinese Democracy (2008)

Sim. É ele mesmo. O Guns N' Roses. E sim, é mesmo o Chinese Democracy. E sim: O disco é espetacular. Eu poderia parar por aqui, mas como gosto de escrever e amo música boa, lá vai.

Esse disco começou a ser pensando em 1994. Isso mesmo, foi quando Slash começou a mandar as primeiras fitas com gravações de riffs pro Axl. As gravações propriamente ditas começaram em 1997. O disco foi lançado em 2008. Ou seja: Quase 12 anos de produção real do CD.

De lá pra cá, (quase) todo mundo sabe o que aconteceu com o Guns. Surto(s) psicótico(s) de Axl, uso abusivo de heroína, esfacelamento da banda, e o aparente fim de uma das maiores bandas da história.

O Guns voltou do inferno em 2001, em um show antológico e triunfante no Rock In Rio, onde Axl disse: "Eu atravessei um traiçoeiro mar de horrores para poder estar com vocês aqui esta noite". De lá pra cá, muita coisa rolou, mas isso não é uma retrospectiva, é apenas uma constatação: Mesmo mais velho, com uma voz muito deteriorada, o talento de um músico pode se sobressair.

O Chinese Democracy é um paradoxo. Não se parece com absolutamente nada do que a banda faz anteriormente. Até o conceito "banda" aqui é diferente. É Axl e mais uns 20 integrantes que deram algum tipo de contribuição para o trabalho, deixando-o eclético e inovador. O uso de elementos eletrônicos, ingresso de DJs na banda, Axl explorando sua voz numa levada mais progressiva, tornam cada acorde desse disco uma instigante descoberta.

Músicas como Madagascar, que foi inclusive tocada pela primeira vez no Rock In Rio, com uma levada mais amena, calma, onde Axl Rose canta:

If we ever find it's true,
that we have a strength to choose,
Oh, freedom of all the chains
We have together.


São a marca do disco. Introspecção, e realmente uma caminhada por um mar de horrores. Ou There Was a Time, onde podemos ver ótimos solos e alguns agudos do "véio" e bom vocalista, considerado por esse que vos fala, um dos maiores talentos vocais de todos os tempos.

Sem mais. É Guns N' Roses, é Axl. E vocês vão ter que aturar.

Them Crooked Vultures (2009)


Josh Homme, Dave Grohl e John Paul Jones.

Somente.

01. No One Loves Me & Neither Do I
02. Mind Eraser, No Chaser
03. New Fang
04. Dead End Friends
05. Elephants
06. Scumbag Blues
07. Bandoliers
08. Reptiles
09. Interlude With Ludes
10. Warsaw Or The First Breath You Take After You Give Up
11. Caligulove
12. Gunman
13. Spinning in Daffodils

Peach - Giving Birth To A Stone (1994)

Tem bandas que, por mais que tentassem exaustivamente fazer com que a carreira alavancasse, simplesmente não conseguiriam. É o destino. O Peach teve uma carreira meteórica, que durou de 1991 a 1994 e, por uma grande maré de azar, não conseguiu engrenar. A banda tocava um progressivo/art rock de qualidade que acabaria tornando o Tool uma das bandas de maior renome da atualidade e que, curiosamente, era a banda pra quem eles abriam nas turnês européias da banda norte-americana. Inclusive, o baixista do Tool, Justin Chancellor, tocou no Peach até o encerramento das suas atividades, quando, enfim, trocou de banda. E o Tool tocava duas músicas do Peach em seu setlist até meados dos anos 2000, "Spasm" e "You Lied", que se encontram nesse petardo.

Tecnicamente, a banda não deixava nada a desejar. Pode-se dizer que era pau a pau com o Tool da época. Melodias bem criadas, batidas quebradas no melhor estilo King Crimson, peso na medida certa, tudo o que ninguém fazia nos pobres anos 90. A primeira faixa, a supracitada "Spasm", é agressiva e ideal para iniciar o disco. E, falando no Crimson, eles mandam bem no cover de "Cat Food", mantendo a tom meio poker em mesa de pub. "Velvet" é outra que merece destaque, pelo som grave, intercalando com riffs soturnos.

"Dougal" é fantástica pelo tom crescente do seu riff durante o "refrão instrumental" da música, o que dá um clima assombroso. Essa é pra escutar direto. E o som da banda é tão parecido com o do Tool que dá a impressão que os guitarristas usam a mesma distorção. "Burn" já conta com uma batida rápida e guitarras agudas ao fundo se sobrepondo. Boa música.

Mas sem dúvida, a grande música do disco, a mais bem tocada, a mais famosa, a mais soturna, o grande destaque é "You Lied". Claro, não dá pra comparar o vocal de Simon Oakes com o alcance de Maynard James Keenan, mas o sotaque britânico dá um plus na música.

A grande dúvida é: como um álbum recheado de boas canções, bem produzido e reverenciado por uma das bandas mais competentes do mundo não consegue emplacar? Curiosamente, o álbum foi relançado em 2000 (ano de lançamento do "Salival" do Tool, que continha uma versão ao vivo de "You Lied") e obteve certo destaque nas vendas e crítica. Isso animou Oakes e Rob Havis a montarem uma nova banda, o Sons Of The Tundra, que ainda não conheço.

01. Spasm
02. Naked
03. Catfood
04. Velvet
05. Dougal
06. Burn
07. Signposts In The Sea
08. You Lied
09. Don't Make Me Your God
10. Peach

Peach - Giving Birth To A Stone

Tenhi - Airut: Aamujen (2006)

A música folk sempre se caracterizou por ser muito difícil de ser classificada, por motivos óbvios. Singular em cada região que se analisa, terminou por englobar uma gama absurda de bandas e projetos e, como não poderia deixar de ser, subtrair-se em diversos sub-estilos, entre eles o NeoFolk, meu preferido.

O NeoFolk surgiu primeiramente na Europa, com influências de músicas de cunho industrial. Pode ser tido como uma música folclória acústica ou uma mistura de instrumentos acústicos do meio folk, acompanhada por uma variedade de sons como pianos, harpas, violão clássico e elementos da música industrial e experimental. O gênero cerca um sortimento largo de temas que incluem música tradicional, romantismo e ocultismo. Músicos que trabalham com o neofolk tem o costume de usar freqüentemente gravatas a outros gêneros post-industriais como música neoclássica e marcial, ou tem ligações com círculos pagãos a outros elementos de contra-cultura.



















O Tenhi é uma banda finalndesa de NeoFolk, caracterizada por composições minimalistas e melancólicas, com forte influência folk em seus vocais e temáticas. Este álbum, o Airut: Aamujen, porém, é quase inteiramente tocado no piano, baixo e bateria, diferenciando-se das suas obras anteriores.

As composições desse disco soam lentas, arrastadas, mas ao mesmo tempo bastante criativas, sem soarem repetitivas ou caducas. O disco é extremamente relaxante, reflexivo e introspectivo, ideal para quem quer ouvir algo calmo, mas sem aqueles ideais suicidas Doom ou coisa parecida.

As letras são escritas em finlandês, como não poderia deixar de ser, são facilmente encontradas traduzidas na internet. Falam de conflitos pessoais internos, de decepções. Tudo de uma maneira sensata, racional. Ninguém aqui quer se matar, não é mesmo?

As faixas 02 e 04, respectivamente Seitsensarvi e Luopumisen laulu são os maiores destaques do disco, com o uso destacado do piano e de vocais praticamente declamados. A gravação foi feita na casa de um dos integrantes, mas não soa suja nem nada do tipo. É límpida, cristalina. Um disco extraordinário, que figura fácil entre os 3 melhores do gênero.

Tracklist

1. Saapuminen
2. Seitsensarvi
3. Lävitseni Kaikkeen
4. Luopumisen Laulu
5. Kuvajainen
6. Oikea Sointi
7. Kahluu
8. Hiensynty
9. Läheltä

Download.

The Whitest Boy Alive - Rules (2009)

Num mundo de novas bandas que mal se diferenciam pelos nomes, é normal ficar com o pé atrás em relação a qualquer uma cujo nome comece com o artigo 'The'. É preciso cautela, discernimento e um saco com uma hidrocele crônica. Pois, o Whitest Boy Alive é uma banda alemã, contendo em sua formação o vocalista/guitarrista Erlend Øye, do Kings Of Convenience.

A ideia inicial da banda era para uma banda de dance, trance, psy ou qualquer outra merda dessas. Felizmente, eles abandonaram os eletrônicos e empunharam suas guitarras, baixos, bateria e Rhodes! Assim como o primeiro disco deles, "Dreams", esse "Rules" preza pela limpeza no som e pelo baixo em primeiro plano. A diferença é que eles largaram um estilo mais próprio, mais rock, e adotaram tons desbotados, partindo pra uma proposta retro ao fincar o pé na disco dos anos 70. Um conjunto de músicas com cheiro de boca-de-sino, sabonete Phebo e radiola. Pior de tudo: é bom pra caralho.

01. Keep A Secret
02. Intentions
03. Courage
04. Timebomb
05. Rollercoaster Ride
06. High On The Heels
07. 1517
08. Gravity
09. Promisse Less Or Do More
10. Dead End
11. Island

Nargaroth - Semper Fidelis (2007)

Após o controverso "Prosatanica Shooting Angels", de 2004, o Nargaroth (personoficado pelo músico alemão Rene Wagner, conhecido como Kanwulf) solta esse novo petardo em 2007, “Semper Fidelis”. Um CD, anteriormente planejado para 2001, cercado de expectativa, acerca de um novo direcionamento ou não da banda.

Para os fãs do Black Metal clássico, ríspido; cru e direto, a decepção não será encontrada aqui. O que o CD trás são exatamente as características que fizeram o Nargaroth famoso na cena Black Metal: Um som direto, com aquela "atmosfera de garagem", mas sem deixar de ser extremamente trabalhado e extremamente épico. A diretriz desse novo trabalho pode ser constatada com a arte gráfica da capa. Uma foto de Kanwulf em meio a um ensaio no estúdio, mas com elementos e efeitos de imagem que tornam a mesma épica e grandiosa.

Com quase 1 hora e 20 minutos de duração, "Semper Fidelis" trás de tudo um pouco: Partes de música ambiente, com requintes de música clássica (caso da introdução e de trechos da faixa "Der Satan Ist's"); musicalidade gélida e riffs repetitivos e esporrados (caso de "Vereinsamt"). Além dos vocais urrados e potentes.

Se até então havia dúvidas sobre o direcionamento da banda, visto que outro grande representante da cena Black Metal, – o Darkthrone – resolveu inovar em sua musicalidade, esse receio caiu por terra.

Esse disco mostra que o Nargaroth realmente chegou à sua plenitude, fazendo o que sempre fez, música direta, sem experimentalismos. Em meio a novos direcionamentos dentro do sempre conservador Black Metal, “Semper Fidelis” chega como uma espécie de protesto e afirmação dos ideiais da “cena”, na ótica do mentor da banda.

Em suma. Procurando por um disco autêntico de Black Metal clássico? Profano, herético; sem inovações gritantes, apenas música para destruir seus ouvidos? Semper Fidelis está presente. Aliás, como o próprio título, em latim, já diz: Sempre Fiel. É isso que o CD tenta ser, ao Black Metal.

1. Introduction
2. Artefucked
3. Der Satan Ist's
4. Vereinsamt
5. Der Leiermann
6. Semper Fi
7. Hate Song
8. Into The Dead Faces Of Aftermath
9. Meine Phantasien Sind Wie Brennendes Laub Nicht Von Dauer
10. I Got My Dead Man Sleep
11. I Still Know
12. Outroduction

Semper Fidelis.

Red House Painters - Down Colorful Hill (1994)


Depressão. Esse é um dos discos mais down que ouvi em toda minha vida. Mas essa era justamente a especialidade do Red House Painters: melancolia extrema. Aqui temos uma pequena coleção de músicas que não animaria nem festa de góticos. O serial killer responsável por essa tragédia atende por Mark Kozelek (que hoje tem uma banda chamada Sun Kil Moon), desde as letras terrivelmente tristes às melodias suaves, mas de ambiente carregado.

A "24" que abre o disco é terrivelmente lenta, angustiante. A letra fala sobre a passagem do tempo e toda a merda acarretada.

And I thought
At fifteen that I'd
Have it down by sixteen
And twenty-four keeps breathing at my face
Like a mad whore
And twenty-four keeps pounding at my door

A música tem uma batida lenta, mas tão lenta que dá vontade de dar um FF pra ela passar logo. O riff final, que dura uns 3 minutos, vai piorando a situação a cada mudança de tom, encerrando de forma dramática.

A próxima, "Medicine Bottle", é a minha preferida da banda. Eleita por mim a música mais depressiva da história. Muito por conta dos seus quase 10 minutos. A voz de Kozelek soa distante, ecoada através de paredes escuras numa sala muito ampla de uma cabana no meio de algum bosque encravado no coração de alguma cidade esquecida por aí. A letra fala sobre perda, e vai fundo nisso. A melodia praticamente não se altera ao longo da música e é impossível não entrar de cabeça nela. No meio da música há um solo de guitarra quase imperceptível, pois a base está mais alta, daí pouco se ouve além de um ruído distorcido ao fundo, como uma porta rangendo.

Fosse para citar uma música feliz aqui, ela seria - apesar do título - "Lord Kill The Pain". Dá até pra dançar, se você não perceber a ironia melodia-letra. Esse, sem dúvidas, não é um disco indicado para tardes nubladas ou noites solitárias. A não ser que suas janelas tenham grades e seu pai não seja PM.

01. 24
02. Medicine Bottle
03. Down Colorful Hill
04. Japanese To English
05. Lord Kill The Pain
06. Michael

Amon Amarth - Twilight Of The Thunder God (2008)

Receita para uma das maiores bandas de Metal do mundo, anote ae: Músicos técnicos, feeling escorrendo por cada acorde, músicas intensas, simbologia e temática de trabalho definida, sem soar caduca, e simplesmente o melhor vocalista da atualidade. Não. Você não tem uma banda hipotética. Você tem o Amon Amarth. A banda sueca é considerada um dos pilares do Metal atual, tendo em seu vocalista Johan Hegg um capítulo a parte, em termos de simpatia, presença de palco e, principalmente, técnica e potência.

O Amon é uma banda do chamado Death Metal Melódico. Ou pelo menos de alguma de suas imensas ramificações, que eu não tenho saco para dissecar. Mas sua temática específica (mitos, contos da Mitologia Nórdica, em especial os Vikings) os fizeram receber a alcunha de Viking Death Metal por algumas revistas especializadas.


Twilight of the Thunder God é o sétimo registro de estúdio da banda, e trás tudo que os consagrou: Riffs impressionantes, que cortam sua orelha e lhe obrigam a balançar a cabeça ou fazer, pelo menos por alguns segundos, para que ninguém veja, o air guitar; a potênica e alcance técnico impressionante de Johan Hegg, além da destruição que suas músicas trazem dentro de si.

Tudo é recheado de estudo e simbolismo. A capa, por exemplo, é uma representação de Thor lutando contra Jormungand, serpente gigantesca que pode cobrir a terra com seu veneno, e que trava uma decisiva batalha contra Thor no ragnarok.

Músicas como "Guardians Of Asgard" trazem bem o que a banda passa em suas letras: Standing firm against all odds
Guarding the most sacred home
We protect the realm of gods
Our destiny is carved in stone

Não soa clichê de forma alguma. É um som fortíssimo, em última velocidade, com um vocal gutural de meter medo, e que ao mesmo tempo lhe dá a possibilidade de entender cada sílaba do que o vocalista canta.

Uma das 3 melhores bandas do mundo há alguns anos já. Já falei que Johan Hegg é foda? Baixe isso, seu herege!


Link aqui.

The Fiery Furnaces - I'm Going Away (2009)


Banda curiosa, essa formada pelos irmãos Matthew e Eleanor Friedberger. Começando pelos vocais agudos e a batida seca, que muito lembram o White Stripes. Mas a banda do Brooklyn parece mais refinada nos seus arranjos, um pouco mais complexos. A faixa-título tem um quê de música de desenho animado. A melhor do disco pra mim, "Drive To Dallas", começa como uma singela balada de FM e explode numa zoada infernal no meio da música, para depois retornar ao romantismo do início como se nada tivesse acontecido. "The End Is Near" começa da mesma forma, mas sem o inferno no meio.

A simplicidade 1-2-3 whitestripeana aparece novamente em "Charmaine Champagne", uma musiquinha feliz e cantarolante. O esquema pianinho-guitarrinha-bateria-corinho mantém-se na maioria das faixas. Eles atacam de "N.I.B.", do Black Sabbath, na faixa "Staring At The Steeple". O riff é inconfundível.

O som mantém-se constante até o fim do disco. Não é a melhor banda que você vai ouvir na sua vida, mas o disco é bom de ouvir, pra passar o tempo.

01. I'm Going Away
02. Drive To Dallas
03. The End Is Near
04. Charmaine Champagne
05. Cut The Cake
06. Even In The Rain
07. Staring At The Steeple
08. Ray Bouvier
09. Keep Me In Dark
10. Lost At Sea
11. Cups And Punches
12. Take Me Round Again

In Extremo - Mein Rasend Herz (2005)

O Folk Metal sempre foi um subgênero presente dentro da imensa esfera do Heavy Metal. Mas com o passar do tempo, o estilo foi se desenvolvendo cada vez mais, e ganhando em complexidade. As pessoas consideravam uma banda como sendo "Folk" quando ouviam uma flauta (transversa ou não) ou com o uso de violinos, ou ambos.

É sempre bom lembrar a origem da palavra "Folk". Ela vem de Folk-lore, e de Volk, expressão de origem germânica, que significa "povo". Sendo assim, o Folk Metal remetia a uma sonoridade nativa, popular. Isso é uma característica fantástica, porque diferente de uma banda de Death ou outro estilo, o Folk se reinventa a cada banda de determinada região que você ouve. É sempre uma nova descoberta.

O In Extremo é uma banda alemã, que começou sua carreira em 1995, e hoje é uma referência mundial em bandas do estilo supracitado. Flertando com temáticas medievais, usando gaitas-de-fole dos mais variodos estilos (sim, existe mais de um tipo), Bandolim, Chifre, Shalmei, Drehleier, Gaita Irlandesa, Harpa, Sintetizações, etc, a banda consegue soar com identidade, mesmo se inventando a cada novo material lançado. A gama é imensa. A banda é extremamente prolífica.

Mein Rasend Herz é o 7º registro de estúdio da banda. Aqui, o In Extremo retoma um pouco o "puro" Folk Metal, que havia deixado um pouco de lado em registros anteriores, onde tinha flertado - de maneira exagerada, ao meu ver - com a música eletrônica.

A banda adota um estilo mais direto, com o maior uso de gaitas-de-fole possíveis, sem se tornar um trabalho repetitivo e tosco. Os maiores destaques do disco são Fontaine La Jolie, com um refrão extremamente viciante, muito por causa dos vocais de Michael Rhein, um dos pontos mais altos da banda, além de um solo lindísismo de gaita irlandesa; Signapur, onde a banda adota um estilo mais épico, com uma instrumentação forte e marcante, fazendo uso de sentetizadores; e, sem dúvida alguma, Macht und Dummheit, considerada por muitos - inclusive por este que escreve - a melhor música da carreira da banda, com uso de violões acústicos, e um refrão inesquecível, mais uma vez graças a Rhein.

O disco é sólido, e figura facilmente entre os registros mais potentes da história do Folk Metal. Merece ser apreciado por todos que buscam um registro autêntico do que é um Folk Metal feito de maneira competente, sem ter a necessidade de duendes pulando pelo palco.

Tracklist:

01.: Raue See
02.: Horizont
03.: Wessebronner Gebet
04.: Nur Ihr Allein
05.: Fontaine La Jolie
06.: Macht Und Dummheit
07.: Tannhuser
08.: Liam
09.: Rasend Herz
10.: Signapur
11.: Poc Vecem
12.: Spielmann

In Extremo - Mein Rasend Herz

Top 30 | #27 | Erasmo Carlos - Carlos, Erasmo (1971)


É fato que o Tremendão sempre viveu à sombra do bom moço Roberto Carlos. Numa época de grande ingenuidade musical, os dois assumiam papéis de Telecatch, onde Roberto seria uma espécie de Ted Boy Marino e Erasmo, o Coveiro. Papéis criados, cada um ficou com seu pedaço da torta. Roberto ficava com as flores e amores, enquanto Erasmo era o sexo, as drogas e o rock n' roll. Isso acabou por dar ampla vantagem mercadológica a Roberto, que era o queridinho na mídia. Restou a Erasmo a imagem de bad boy.

Mas enquanto sua contraparte boazinha colhia os louros do sucesso, grande parte por causa das parcerias com o Tremendão, Erasmo seguia à margem dos flashes, dadas as devidas proporções. Mas em seu favor havia uma grande competência musical e fluidez de estilos. Roberto não produzia nada além de seus standards românticos cada vez mais bregas. Erasmo partiu para o experimentalismo, alimentando-se de soul e samba, com as necessárias pitadas de rock. E eis que surge esse disco fantástico, o Carlos, Erasmo.

Para o ano, 1971, após o fim recente da Jovem Guarda, o álbum deve ter soado escandaloso para boa parte dos fãs, acostumados com o mamão-com-açucar. E mesmo sob a mira da ditadura, Erasmo conseguiu colocar no mercado uma música como "Maria Joana" que fala exatamente disso que o título diz. O disco já começa com uma festa deliciosa em "De Noite Na Cama", escrita por Caetano Veloso pro Tremendão. Cuíca, berimbau, guitarra discreta que dá o tom, e uma galera da porra arriando no fundo e aparecendo pra cantar o refrão em coro.

Depois, vem uma balada melosa, "Masculino Feminino", em dueto com Marisa Fossa (apropriado, não?). Mas é uma bela música. Segue um rockão, "É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo", tocado com competência. Meio bluseiro, meio soturno. E ele manda bem na funkeada "Dois Animais Na Selva Suja Da Rua". "Gente Aberta" é uma balada suingada, que em alguns momentos tem uma linha de baixo semelhante à de "Ramble On", do Led Zepellin.

Pra fuder a merda, ele manda "Agora Ninguém Chora Mais", de Jorge Ben, num cover fantástico, onde não se percebe a voz de Erasmo, perdida em meio ao coro de vozes sobrepostas. Um dos pontos altos do álbum. "Mundo Deserto" é outra das minhas preferidas. Um disco-rock-soul-funk, mais uma vez permeado por coros e muitos metais. Metais que se repetem em "Ciça Cecília", que foi tema de novela. A já citada "Maria Joana" encerra o disco como ele começa. Com festa, mais berimbau e a Caribe Steel Band, com um coro de fundo sensacional. Chave de ouro.

01. De Noite Na Cama
02. Masculino, Feminino
03. É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo
04. Dois Animais Na Selva Suja Da Rua
05. Gente Aberta
06. Agora Ninguém Chora Mais
07. Sodoma E Gomorra
08. Mundo Deserto
09. Não Te Quero Santa
10. Ciça, Cecília
11. Em Busca Das Canções Perdidas Nº 2
12. 26 Anos De Vida Normal
13. Maria Joana

Isis - Wavering Radiant (2009)

Em meados dos anos 1990, o gênero musical que mais explodiu, em termos numéricos (e nem sempre em termos qualitativos) foi o Metal Melódico, bem como suas variações (Heavy Melódico, Power Melódico, etc). Surgiam bandas aos montes. Parecia que todas já tinham materiais prontos, mas estavam esperando apenas o primeiro registro do estilo aparecer. A partir do ano 2000, a menina dos olhos de ouro da música foi o Sludge. Sendo reducionista e direto, mas didático, o gênero Sludge consiste em um subgênero do Metal (mais precisamente do Doom), com influências do Hardcore e do Punk. Soma-se a isso, pitadas de Música Industrial e do Southern Rock.

E sem dúvida alguma, a banda que encabeça esse gênero musical (que já se ramificou em outros 300 diferentes) é o Isis. A banda é norte-americana, mais precisamente de Boston. Sua carreira tem início em 1998, e a banda já tem no currículo participações dignas, como as de alguns artistas importantes. Como, por exemplo, Mike Patton (Faith No More) e Adam Jones (Tool).

Depois de 3 anos sem um disco oficial lançado (fora EPs), a banda retorna com seu "Wavering Radiant". O quinteto, formado por Aaron Turner, Mike Gallagher, Jeff Caxide, Aaron Harris e Bryant Clifford Meyer, ganhou um status cult, de representante do estilo, após soltar dois clássicos absolutos do gênero: os ótimos Celestial e Panopticon.


O disco segue a mesma linha dos trabalhos anteriores da banda. Músicas longas, complexas, guitarras fortemente distorcidas, uma bateria altíssima, principalmente o bumbo, e os vocais de Aaron Turner, que aparecem hora claros, presentes, hora distantes, como se o mesmo estivesse longe do microfone, criando uma atmosfera interessante em cada música. O legal do Isis, entre outras coisas, é que não são músicas previsíveis. Se em outras bandas você sabe exatamente como será a virada da bateria antes da mesma acontecer, isso é impossível aqui. A instrumentação eletrônica também é presente, e fica cargo do baterista Aaron Haris.

As passagens instrumentais - que são bastante longas - intercaladas com os vocais de Turner dão uma identidade inconfundível à banda. A diferença é que aqui não se vêem solos de guitarras, mas um predomínio do baixo, que parece ser o instrumento-chefe do grupo. A faixa de abetura do CD, Hall of The Dead e a última Threshold of Transformation, são as melhores do trabalho do Isis que, se não supera os dois marcos do estilo, não faz feito, sendo fácil um dos melhores lançamentos de 2009. Obrigatório!


Tracklist:

1 - Hall Of The Dead
2 - Ghost Key
3 - Hand Of The Host
4 - Wavering Radiant
5 - Stone To Wake a Serpent
6 - 20 Minutes / 40 Years
7 - Threshold of Transformation

Isis - Wavering Radiant (2009)

Pearl Jam - No Code (1996)


Talvez o mais obscuro dos álbuns da banda. Se o Vitalogy, de 94, marca o fim de uma era, esse No Code - que veio em seguida - é o começo da nova. Passado todo o frisson de ser uma das bandas que encabeçavam o movimento grunge, o Pearl Jam soa mais tranquilo, não sei se por respeito ao decretado fim do movimento (com a morte de Kurt, o fim do Soundgarden e os problemas de Layne Staley, do Alice In Chains) ou por maturidade mesmo. O 4º álbum de estúdio da banda de Seattle é pouco comercial, a começar pela capa, um mosaico de 144 polaroids que se desdobram e mostram uma foto de estúdio em preto e branco e abriga outras 9 polaroids em tamanho natural com letras de algumas músicas no verso, além, claro, do cd.

Esse foi o primeiro disco da banda que comprei, após ler a crítica de Álvaro Pereira Jr. na Folha de São Paulo pouco após o seu lançamento. Já conhecia a banda de algumas músicas, como "Black" ou "Alive" do Ten, mas só passei a caçá-la realmente após ouvir "I Got Id", que só saiu num compacto chamando Merkinball, que vinha grátis junto com o Mirror Ball de Neil Young.

Aqui, a voz de Eddie Vedder começa a apresentar sinais de desgaste, depois de seu uso exagerado nos primeiros anos da banda. Mas é uma rouquidão que cai bem no No Code, como já pode ser percebido na primeira faixa, a distante, suave e soturna "Sometimes".

Large fingers pushing paint
You're God and you got big hands
The colours blend
The challenges you give, man

Girando 180º vem "Hail, Hail", uma profunda e fantástica DR, com fundo agressivo que torna-se melódico do meio pro fim.

If you're the only one, will I never be enough?
Hail, hail the lucky ones, I refer to those in love

Sometimes realize, I could only be as good as you'll let me
Are you woman enough to be my man?
Bandaged hand in hand

"Who You Are" tem uma levada percurssiva, com uma linha de baixo dissonante e vocais quase gospel. A música seguinte acontece de ser a minha preferida da banda, "In My Tree". Álvaro Pereira Jr. acertou em cheio na sua descrição, ao dizer que ela soa como se Vedder estivesse cantando da beira de um precipício. O baixo constante e entediante do início, acompanhando dos tons de Jack Irons, passam por uma bridge onde a guitarra dá leves toques com muito delay, para desafogar num refrão vigoroso. Vedder canta com muita franqueza uma letra extremamente pessoal.

I'm so light the wind me shakes
I'm so high the sky I scrape
Yea, I'm so high I hold just one breath
To go back to my nest, to sleep with innocence

"Smile" é um blues que tenta ser feliz e traz você de volta ao mundo. "Off He Goes" é uma bela balada acústica com uma letra-história no melhor estilo Vedder.

And I wonder bout his insides
Its like his thoughts are too big for his size
He's been taken, where I don't know
Off he goes with his perfectly unkept hope
There he goes

"Habit" é a mais pesada do disco, com McCready e Gossard querendo arrancar as cordas da guitarra e o vocal de Vedder rasgado. Assim como "Hail, Hail", ela tem quê de anos 70. "Red Mosquito" é outro blues, onde a voz dele parece querer voltar. "Lukin" é praticamente uma vinheta de um minuto que conta uma pequena saga urbana. Pesada. "Present Tense" seria, talvez, a música mais comercial daqui. Uma bela balada semi-acústica onde os vocais novamente se destacam, além da letra.

You can spend your time alone
Redigesting past regrets
Or you can come to terms and realize
You're the only one who cannot forgive yourself
Make much more sense
To live in the present tense

"Mankind" é um punk-rock-3-acordes cantado por Gossard, sem muitas firulas. A faixa que se segue "I'm Open" é praticamente um mantra Enya-style que pode figurar entra as músicas mais estranhas da banda. Fechando o álbum, "Around The Bend", baladinha suave que sincronizaria bem com o vai-e-vem das ondas do mar, naquele clima de fim de tarde. Bom disco, um dos melhores dessa ex-banda e ex-banda preferida.

01. Sometimes
02. Hail, Hail
03. Who You Are
04. In My Tree
05. Smile
06. Off He Goes
07. Habit
08. Red Mosquito
09. Lukin
10. Present Tense
11. Mankind
12. I'm Open
13. Around the Bend

Pearl Jam - No Code

Devin Townsend Project - Addicted (2009)

Você conhece o músico canadense que atende pelo nome de Devin Townsend? Não? Então está perdendo um dos seres vivos mais prolíficos do mundo da música. Este senhor é nascido em 5 de Maio de 1972, e é considerado um dos melhores e mais controversos músicos do mundo. Quem lê esse Blog sabe sempre procuro sonoridades singulares, originais, trabalhadas e, principalmente, músicos que não tenham limites criativos, mesmo que criem merdas em algum determinado momento de sua carreira. "Só erra quem tá lá, sacô truta?"

Atente bem para o nome da "banda": É Devin Townsend Project. Não é Devin Townsend ou The Devin Townsend Band. Esses dois sendo "projetos diferentes" de Devin. Com sonoridades completamente diferentes, esses projetos fazem parte de Devin, que tem uma discografia extremamente extensa, mas que dá guinadas violentas em sua sonoridade. Exatamente por isso a quantidade de ramificações do que, para algum desavisado, poderia soar como a mesma coisa.

Devin Townsend Project é um outro vertente do trabalho dele, considerado pelo mesmo um trabalho em separado, no tocante a sua discografia. O projeto compreende quatro álbuns de diferentes estilos musicais, cada um com um conjunto diferente de participações/ músicos de apoio a Townsend.

O Addicted já é o segundo trabalho dessa quadrilogia, que teve o álbum "Ki" como seu ponto de partida. Os discos, como já foi dito, não são interligados. Não tem nenhuma historinha ou qualquer espécie de jornada conceitual. É apenas um músico explorando ao máximo sua capacidade inventiva.

Neste trabalho, Devin trabalha ao lado de outra mente genial. A vocalista holandesa Anneke van Giersbergen, ex-vocalista do The Gathering, em duetos espetaculares. O som caracteriza-se por uma pegada progressiva e industrial, com um forte uso de sintetizadores e demais sonoridades eletrônicas.

O disco tem uma sonoridade grandiosa, e pode não agradar aos fãs "véios" de Townsend, visto que é mais puxado pra um "Pop Complexo". Townsend faz um uso de guitarras tradicionais, sem usar baixa distorção, e deixando de lado os vocais guturais insanos, que o eternizaram no Strapping Young Lad. O disco é uma verdadeira montanha-russa, tendo faixas praticamente a cappela, e canções fortes, grandiosas, como é o caso de "Supercrush" e "Hyperdrive".

O desempenho de Anneke é o esperado: Esplêndido. Melhor do que eu, é melhor a opinião do malucão sobre o disco:

"Mas, de várias formas, eu acho que o que 'Addicted', esse disco, é sobre é, bem, dizer que não há nada mais. Dizer que isso é tudo. Sabe, que há esse infinito espaço de nada sobre nós e tudo o que temos é, tipo, um bando de outros humanos. Então qual é o resultado final disso? E, por anos, minha música tem sido realmente meio metafórica, e tem havido muita escuridão na música. Mas a percepção de que talvez não haja nada mais foi realmente revigorante pra mim porque eu pensei. 'Ok, se não há mais nada, então tudo o que precisamos ter é uns aos outros. Então o que nós queremos fazer? Nós provamos uns aos outros que estamos certos?'"

Tá dentro da aventura? Mergulha no mundo de Devin Townsend, e tu vai ver que nem precisa mais de álcool, nem nenhuma outra droga, mano.

Addicted

Machines Of Loving Grace - Concentration (1993)

Os anos 80 viram o espocar de uma insuportável onda de música eletrônica que, se não mostrou qualidade suficiente, serviu para influenciar as próximas décadas. Os tecladinhos, samplers e sintetizadores fizeram a cabeça de muita gente, e essa gente acabou encontrando alguma utilidade para essa parafernália. Influenciados pelas bandas que se salvaram dos 80's, como Depeche Mode, New Order e Duran Duran, eles adicionaram o elemento rock que faltava ao adocicado synth pop da época. Mas quem são eles, oh, quem são? Provavelmente Trent Reznor e Al Jourgensen, criadores do Nine Inch Nails e Ministry, respectivamente, e fundadores do so called rock industrial, no fim da supracitada década.

Alguém me perguntou uma vez sobre o Nine Inch Nails e eu disse que era uma banda de rock industrial, no que o sujeito retrucou "rock industrial? Que é isso? Rock de usineiro?" Isso foi pouco depois de conhecer a trilha d'O Corvo, de 1994, recheado de bandas do estilo. Foi ali que comecei a simpatizar com as batidas eletrônicas misturadas com guitarras pesadas e efeitos mecânicos e metálicos. Uma das que mais me chamou a atenção foi o Machines Of Loving Grace, banda do Arizona. A música em questão era "Golgotha Tenement Blues", feita exclusivamente para o filme, e ela tinha um clima sombrio, pesadão, com sons de ferramentas caindo no chão. Isso foi fantástico pra mim, e até hoje a música soa extremamente atual. A banda acabou em 97 e depois de um hiato provocado pela escassez de mp3 da época, só consegui acesso ao restante do material da banda recentemente. Esse Concentration é o primeiro álbum da banda e, pra mim, o que tem mais atmosfera.

O baixo é bastante acentuado na maioria das músicas e a guitarra passa como serra elétrica por elas. E o som, de fato, dá a impressão que o disco foi gravado entre correntes, rolamentos, esteiras e máquinas de uma fábrica com pé direito monstruoso. Tudo ecoa soturnamente. Grande disco, de um gênero que praticamente foi aposentado.

01. Perfect Tan (Bikini Atoll)
02. Butterfly Wings
03. Lilith/Eve
04. Albert Speer
05. Limiter
06. If I Should Explode
07. Shake
08. Cheap
09. Acceleration
10. Ancestor Cult
11. Content?
12. Trigger for Happiness


E pra quem quiser curtir a música da trilha de O Corvo, um industrial na sua mais pura essência, ei-la aqui:

Green Carnation - The Quiet Offspring (2005)

Existem certas bandas que simplesmente não conseguem ser encaixadas satisfatoriamente em nenhuma classificação. Não são rotuladas de tal forma, que se agrade a gregos e troianos. Isso soa originalidade, algo tão raro atualmente, na indústria musical. Quantas e quantas vezes você ouve uma banda de Death, Black, Melódico, Folk e tem a certeza de já ter ouvido aquilo antes? Maior merda. Chega se perde o tesão de continuar a ouvir o CD.

Não ocorre com o Green Carnation. A banda começou como um projeto paralelo do ex-guitarristaa do Emperor e Carpathian Forest, Tchort. Saindo um pouco da esfera extrema do Black Metal que suas duas bandas apresentavam, Tchort buscou algo mais intimista, pessoal. Junto com Kjetil Nordhus, que foi por anos o vocalista do Tristania, conseguiu fazer um som com cara e sonoridade próprias, totalmente único.

A banda começou suas atividades no início dos anos 1990 e alcançou reconhecimento rapidamente, em 2003, com o lançamento do "A Blessing In Disguise". O disco, classificado por revistas especializadas como "NeoProgressive Metal" agradou em cheio, mesmo sendo classificado como tendo uma audição difícil, complicada de "engolir" nas primeiras tentativas.

Em 2005 foi lançado o disco analisado aqui em questão. The Quiet Offspring levou a banda para um lado mais comercial e acessível a novos ouvidos. O que quase sempre é sinônimo de desgraça para muitas bandas, não alterou em nada o processo criativo do Green Carnation.

O álbum fala das experiências de todos os integrantes. Experiências de vida de uma maneira geral. Não existe um direcionamento específico. Fala da complicada convivência em sociedade de pessoas críticas, questionadoras; de desilusões amorosas; do choque de lidar com a morte pela primeira vez. Da relação entre vida e morte, de como nós ainda temos dificuldades extremas em encarar e lidar com esses fatos.

O disco é mais fácil de ouvir justamente pela inclusão de riffs mais comerciais na maioria das músicas. A primeira faixa do disco, homônima ao título do mesmo, apresenta isso logo com 5 segundos de música. Riffs com alta distorção, beirando o New Metal, podem chocar os fãs mais antigos do grupo, e maravilhar quem está se encontrando com a banda pela primeira vez.

Mas, com o passar das faixas, o Green Carnation mostra que continua o mesmo grupo intimista, pessoal e conflituoso de sempre. Faixas como A Place For Me, de autoria de Tchort, onde o mesmo se mostra totalmente perdido em suas escolhas de vida, ou em Purple Door, Pitch Black, candidata a mais bela faixa do disco, com uma introdução esplêndida, onde o vocalista se mostra descrente com a continuidade dos homens, em "so save me, I'm falling, and I don't have the strenght to go on", mostram que todas as características da banda estão presentes.

Em Dead But Dreaming, os riffs-facilitadores voltam, e mostram que é perfeitamente possível fazer um som acessível ao grande público, e de excelentíssima qualidade.

Sou dos que acham que se o guitarrista do Green Carnation peidar, vai ser foda. A banda entrou num hiato indeterminado depois de 2007, e eu sigo firme e forte em minhas macumbas para que eles voltem. O que é bom tem que perdurar, e 17 anos é muito pouco tempo.


Green Carnation - The Quiet Offspring
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