Guns N' Roses - Chinese Democracy (2008)

Sim. É ele mesmo. O Guns N' Roses. E sim, é mesmo o Chinese Democracy. E sim: O disco é espetacular. Eu poderia parar por aqui, mas como gosto de escrever e amo música boa, lá vai.

Esse disco começou a ser pensando em 1994. Isso mesmo, foi quando Slash começou a mandar as primeiras fitas com gravações de riffs pro Axl. As gravações propriamente ditas começaram em 1997. O disco foi lançado em 2008. Ou seja: Quase 12 anos de produção real do CD.

De lá pra cá, (quase) todo mundo sabe o que aconteceu com o Guns. Surto(s) psicótico(s) de Axl, uso abusivo de heroína, esfacelamento da banda, e o aparente fim de uma das maiores bandas da história.

O Guns voltou do inferno em 2001, em um show antológico e triunfante no Rock In Rio, onde Axl disse: "Eu atravessei um traiçoeiro mar de horrores para poder estar com vocês aqui esta noite". De lá pra cá, muita coisa rolou, mas isso não é uma retrospectiva, é apenas uma constatação: Mesmo mais velho, com uma voz muito deteriorada, o talento de um músico pode se sobressair.

O Chinese Democracy é um paradoxo. Não se parece com absolutamente nada do que a banda faz anteriormente. Até o conceito "banda" aqui é diferente. É Axl e mais uns 20 integrantes que deram algum tipo de contribuição para o trabalho, deixando-o eclético e inovador. O uso de elementos eletrônicos, ingresso de DJs na banda, Axl explorando sua voz numa levada mais progressiva, tornam cada acorde desse disco uma instigante descoberta.

Músicas como Madagascar, que foi inclusive tocada pela primeira vez no Rock In Rio, com uma levada mais amena, calma, onde Axl Rose canta:

If we ever find it's true,
that we have a strength to choose,
Oh, freedom of all the chains
We have together.


São a marca do disco. Introspecção, e realmente uma caminhada por um mar de horrores. Ou There Was a Time, onde podemos ver ótimos solos e alguns agudos do "véio" e bom vocalista, considerado por esse que vos fala, um dos maiores talentos vocais de todos os tempos.

Sem mais. É Guns N' Roses, é Axl. E vocês vão ter que aturar.

Them Crooked Vultures (2009)


Josh Homme, Dave Grohl e John Paul Jones.

Somente.

01. No One Loves Me & Neither Do I
02. Mind Eraser, No Chaser
03. New Fang
04. Dead End Friends
05. Elephants
06. Scumbag Blues
07. Bandoliers
08. Reptiles
09. Interlude With Ludes
10. Warsaw Or The First Breath You Take After You Give Up
11. Caligulove
12. Gunman
13. Spinning in Daffodils

Peach - Giving Birth To A Stone (1994)

Tem bandas que, por mais que tentassem exaustivamente fazer com que a carreira alavancasse, simplesmente não conseguiriam. É o destino. O Peach teve uma carreira meteórica, que durou de 1991 a 1994 e, por uma grande maré de azar, não conseguiu engrenar. A banda tocava um progressivo/art rock de qualidade que acabaria tornando o Tool uma das bandas de maior renome da atualidade e que, curiosamente, era a banda pra quem eles abriam nas turnês européias da banda norte-americana. Inclusive, o baixista do Tool, Justin Chancellor, tocou no Peach até o encerramento das suas atividades, quando, enfim, trocou de banda. E o Tool tocava duas músicas do Peach em seu setlist até meados dos anos 2000, "Spasm" e "You Lied", que se encontram nesse petardo.

Tecnicamente, a banda não deixava nada a desejar. Pode-se dizer que era pau a pau com o Tool da época. Melodias bem criadas, batidas quebradas no melhor estilo King Crimson, peso na medida certa, tudo o que ninguém fazia nos pobres anos 90. A primeira faixa, a supracitada "Spasm", é agressiva e ideal para iniciar o disco. E, falando no Crimson, eles mandam bem no cover de "Cat Food", mantendo a tom meio poker em mesa de pub. "Velvet" é outra que merece destaque, pelo som grave, intercalando com riffs soturnos.

"Dougal" é fantástica pelo tom crescente do seu riff durante o "refrão instrumental" da música, o que dá um clima assombroso. Essa é pra escutar direto. E o som da banda é tão parecido com o do Tool que dá a impressão que os guitarristas usam a mesma distorção. "Burn" já conta com uma batida rápida e guitarras agudas ao fundo se sobrepondo. Boa música.

Mas sem dúvida, a grande música do disco, a mais bem tocada, a mais famosa, a mais soturna, o grande destaque é "You Lied". Claro, não dá pra comparar o vocal de Simon Oakes com o alcance de Maynard James Keenan, mas o sotaque britânico dá um plus na música.

A grande dúvida é: como um álbum recheado de boas canções, bem produzido e reverenciado por uma das bandas mais competentes do mundo não consegue emplacar? Curiosamente, o álbum foi relançado em 2000 (ano de lançamento do "Salival" do Tool, que continha uma versão ao vivo de "You Lied") e obteve certo destaque nas vendas e crítica. Isso animou Oakes e Rob Havis a montarem uma nova banda, o Sons Of The Tundra, que ainda não conheço.

01. Spasm
02. Naked
03. Catfood
04. Velvet
05. Dougal
06. Burn
07. Signposts In The Sea
08. You Lied
09. Don't Make Me Your God
10. Peach

Peach - Giving Birth To A Stone

Tenhi - Airut: Aamujen (2006)

A música folk sempre se caracterizou por ser muito difícil de ser classificada, por motivos óbvios. Singular em cada região que se analisa, terminou por englobar uma gama absurda de bandas e projetos e, como não poderia deixar de ser, subtrair-se em diversos sub-estilos, entre eles o NeoFolk, meu preferido.

O NeoFolk surgiu primeiramente na Europa, com influências de músicas de cunho industrial. Pode ser tido como uma música folclória acústica ou uma mistura de instrumentos acústicos do meio folk, acompanhada por uma variedade de sons como pianos, harpas, violão clássico e elementos da música industrial e experimental. O gênero cerca um sortimento largo de temas que incluem música tradicional, romantismo e ocultismo. Músicos que trabalham com o neofolk tem o costume de usar freqüentemente gravatas a outros gêneros post-industriais como música neoclássica e marcial, ou tem ligações com círculos pagãos a outros elementos de contra-cultura.



















O Tenhi é uma banda finalndesa de NeoFolk, caracterizada por composições minimalistas e melancólicas, com forte influência folk em seus vocais e temáticas. Este álbum, o Airut: Aamujen, porém, é quase inteiramente tocado no piano, baixo e bateria, diferenciando-se das suas obras anteriores.

As composições desse disco soam lentas, arrastadas, mas ao mesmo tempo bastante criativas, sem soarem repetitivas ou caducas. O disco é extremamente relaxante, reflexivo e introspectivo, ideal para quem quer ouvir algo calmo, mas sem aqueles ideais suicidas Doom ou coisa parecida.

As letras são escritas em finlandês, como não poderia deixar de ser, são facilmente encontradas traduzidas na internet. Falam de conflitos pessoais internos, de decepções. Tudo de uma maneira sensata, racional. Ninguém aqui quer se matar, não é mesmo?

As faixas 02 e 04, respectivamente Seitsensarvi e Luopumisen laulu são os maiores destaques do disco, com o uso destacado do piano e de vocais praticamente declamados. A gravação foi feita na casa de um dos integrantes, mas não soa suja nem nada do tipo. É límpida, cristalina. Um disco extraordinário, que figura fácil entre os 3 melhores do gênero.

Tracklist

1. Saapuminen
2. Seitsensarvi
3. Lävitseni Kaikkeen
4. Luopumisen Laulu
5. Kuvajainen
6. Oikea Sointi
7. Kahluu
8. Hiensynty
9. Läheltä

Download.

The Whitest Boy Alive - Rules (2009)

Num mundo de novas bandas que mal se diferenciam pelos nomes, é normal ficar com o pé atrás em relação a qualquer uma cujo nome comece com o artigo 'The'. É preciso cautela, discernimento e um saco com uma hidrocele crônica. Pois, o Whitest Boy Alive é uma banda alemã, contendo em sua formação o vocalista/guitarrista Erlend Øye, do Kings Of Convenience.

A ideia inicial da banda era para uma banda de dance, trance, psy ou qualquer outra merda dessas. Felizmente, eles abandonaram os eletrônicos e empunharam suas guitarras, baixos, bateria e Rhodes! Assim como o primeiro disco deles, "Dreams", esse "Rules" preza pela limpeza no som e pelo baixo em primeiro plano. A diferença é que eles largaram um estilo mais próprio, mais rock, e adotaram tons desbotados, partindo pra uma proposta retro ao fincar o pé na disco dos anos 70. Um conjunto de músicas com cheiro de boca-de-sino, sabonete Phebo e radiola. Pior de tudo: é bom pra caralho.

01. Keep A Secret
02. Intentions
03. Courage
04. Timebomb
05. Rollercoaster Ride
06. High On The Heels
07. 1517
08. Gravity
09. Promisse Less Or Do More
10. Dead End
11. Island

Nargaroth - Semper Fidelis (2007)

Após o controverso "Prosatanica Shooting Angels", de 2004, o Nargaroth (personoficado pelo músico alemão Rene Wagner, conhecido como Kanwulf) solta esse novo petardo em 2007, “Semper Fidelis”. Um CD, anteriormente planejado para 2001, cercado de expectativa, acerca de um novo direcionamento ou não da banda.

Para os fãs do Black Metal clássico, ríspido; cru e direto, a decepção não será encontrada aqui. O que o CD trás são exatamente as características que fizeram o Nargaroth famoso na cena Black Metal: Um som direto, com aquela "atmosfera de garagem", mas sem deixar de ser extremamente trabalhado e extremamente épico. A diretriz desse novo trabalho pode ser constatada com a arte gráfica da capa. Uma foto de Kanwulf em meio a um ensaio no estúdio, mas com elementos e efeitos de imagem que tornam a mesma épica e grandiosa.

Com quase 1 hora e 20 minutos de duração, "Semper Fidelis" trás de tudo um pouco: Partes de música ambiente, com requintes de música clássica (caso da introdução e de trechos da faixa "Der Satan Ist's"); musicalidade gélida e riffs repetitivos e esporrados (caso de "Vereinsamt"). Além dos vocais urrados e potentes.

Se até então havia dúvidas sobre o direcionamento da banda, visto que outro grande representante da cena Black Metal, – o Darkthrone – resolveu inovar em sua musicalidade, esse receio caiu por terra.

Esse disco mostra que o Nargaroth realmente chegou à sua plenitude, fazendo o que sempre fez, música direta, sem experimentalismos. Em meio a novos direcionamentos dentro do sempre conservador Black Metal, “Semper Fidelis” chega como uma espécie de protesto e afirmação dos ideiais da “cena”, na ótica do mentor da banda.

Em suma. Procurando por um disco autêntico de Black Metal clássico? Profano, herético; sem inovações gritantes, apenas música para destruir seus ouvidos? Semper Fidelis está presente. Aliás, como o próprio título, em latim, já diz: Sempre Fiel. É isso que o CD tenta ser, ao Black Metal.

1. Introduction
2. Artefucked
3. Der Satan Ist's
4. Vereinsamt
5. Der Leiermann
6. Semper Fi
7. Hate Song
8. Into The Dead Faces Of Aftermath
9. Meine Phantasien Sind Wie Brennendes Laub Nicht Von Dauer
10. I Got My Dead Man Sleep
11. I Still Know
12. Outroduction

Semper Fidelis.

Red House Painters - Down Colorful Hill (1994)


Depressão. Esse é um dos discos mais down que ouvi em toda minha vida. Mas essa era justamente a especialidade do Red House Painters: melancolia extrema. Aqui temos uma pequena coleção de músicas que não animaria nem festa de góticos. O serial killer responsável por essa tragédia atende por Mark Kozelek (que hoje tem uma banda chamada Sun Kil Moon), desde as letras terrivelmente tristes às melodias suaves, mas de ambiente carregado.

A "24" que abre o disco é terrivelmente lenta, angustiante. A letra fala sobre a passagem do tempo e toda a merda acarretada.

And I thought
At fifteen that I'd
Have it down by sixteen
And twenty-four keeps breathing at my face
Like a mad whore
And twenty-four keeps pounding at my door

A música tem uma batida lenta, mas tão lenta que dá vontade de dar um FF pra ela passar logo. O riff final, que dura uns 3 minutos, vai piorando a situação a cada mudança de tom, encerrando de forma dramática.

A próxima, "Medicine Bottle", é a minha preferida da banda. Eleita por mim a música mais depressiva da história. Muito por conta dos seus quase 10 minutos. A voz de Kozelek soa distante, ecoada através de paredes escuras numa sala muito ampla de uma cabana no meio de algum bosque encravado no coração de alguma cidade esquecida por aí. A letra fala sobre perda, e vai fundo nisso. A melodia praticamente não se altera ao longo da música e é impossível não entrar de cabeça nela. No meio da música há um solo de guitarra quase imperceptível, pois a base está mais alta, daí pouco se ouve além de um ruído distorcido ao fundo, como uma porta rangendo.

Fosse para citar uma música feliz aqui, ela seria - apesar do título - "Lord Kill The Pain". Dá até pra dançar, se você não perceber a ironia melodia-letra. Esse, sem dúvidas, não é um disco indicado para tardes nubladas ou noites solitárias. A não ser que suas janelas tenham grades e seu pai não seja PM.

01. 24
02. Medicine Bottle
03. Down Colorful Hill
04. Japanese To English
05. Lord Kill The Pain
06. Michael

Amon Amarth - Twilight Of The Thunder God (2008)

Receita para uma das maiores bandas de Metal do mundo, anote ae: Músicos técnicos, feeling escorrendo por cada acorde, músicas intensas, simbologia e temática de trabalho definida, sem soar caduca, e simplesmente o melhor vocalista da atualidade. Não. Você não tem uma banda hipotética. Você tem o Amon Amarth. A banda sueca é considerada um dos pilares do Metal atual, tendo em seu vocalista Johan Hegg um capítulo a parte, em termos de simpatia, presença de palco e, principalmente, técnica e potência.

O Amon é uma banda do chamado Death Metal Melódico. Ou pelo menos de alguma de suas imensas ramificações, que eu não tenho saco para dissecar. Mas sua temática específica (mitos, contos da Mitologia Nórdica, em especial os Vikings) os fizeram receber a alcunha de Viking Death Metal por algumas revistas especializadas.


Twilight of the Thunder God é o sétimo registro de estúdio da banda, e trás tudo que os consagrou: Riffs impressionantes, que cortam sua orelha e lhe obrigam a balançar a cabeça ou fazer, pelo menos por alguns segundos, para que ninguém veja, o air guitar; a potênica e alcance técnico impressionante de Johan Hegg, além da destruição que suas músicas trazem dentro de si.

Tudo é recheado de estudo e simbolismo. A capa, por exemplo, é uma representação de Thor lutando contra Jormungand, serpente gigantesca que pode cobrir a terra com seu veneno, e que trava uma decisiva batalha contra Thor no ragnarok.

Músicas como "Guardians Of Asgard" trazem bem o que a banda passa em suas letras: Standing firm against all odds
Guarding the most sacred home
We protect the realm of gods
Our destiny is carved in stone

Não soa clichê de forma alguma. É um som fortíssimo, em última velocidade, com um vocal gutural de meter medo, e que ao mesmo tempo lhe dá a possibilidade de entender cada sílaba do que o vocalista canta.

Uma das 3 melhores bandas do mundo há alguns anos já. Já falei que Johan Hegg é foda? Baixe isso, seu herege!


Link aqui.

The Fiery Furnaces - I'm Going Away (2009)


Banda curiosa, essa formada pelos irmãos Matthew e Eleanor Friedberger. Começando pelos vocais agudos e a batida seca, que muito lembram o White Stripes. Mas a banda do Brooklyn parece mais refinada nos seus arranjos, um pouco mais complexos. A faixa-título tem um quê de música de desenho animado. A melhor do disco pra mim, "Drive To Dallas", começa como uma singela balada de FM e explode numa zoada infernal no meio da música, para depois retornar ao romantismo do início como se nada tivesse acontecido. "The End Is Near" começa da mesma forma, mas sem o inferno no meio.

A simplicidade 1-2-3 whitestripeana aparece novamente em "Charmaine Champagne", uma musiquinha feliz e cantarolante. O esquema pianinho-guitarrinha-bateria-corinho mantém-se na maioria das faixas. Eles atacam de "N.I.B.", do Black Sabbath, na faixa "Staring At The Steeple". O riff é inconfundível.

O som mantém-se constante até o fim do disco. Não é a melhor banda que você vai ouvir na sua vida, mas o disco é bom de ouvir, pra passar o tempo.

01. I'm Going Away
02. Drive To Dallas
03. The End Is Near
04. Charmaine Champagne
05. Cut The Cake
06. Even In The Rain
07. Staring At The Steeple
08. Ray Bouvier
09. Keep Me In Dark
10. Lost At Sea
11. Cups And Punches
12. Take Me Round Again

In Extremo - Mein Rasend Herz (2005)

O Folk Metal sempre foi um subgênero presente dentro da imensa esfera do Heavy Metal. Mas com o passar do tempo, o estilo foi se desenvolvendo cada vez mais, e ganhando em complexidade. As pessoas consideravam uma banda como sendo "Folk" quando ouviam uma flauta (transversa ou não) ou com o uso de violinos, ou ambos.

É sempre bom lembrar a origem da palavra "Folk". Ela vem de Folk-lore, e de Volk, expressão de origem germânica, que significa "povo". Sendo assim, o Folk Metal remetia a uma sonoridade nativa, popular. Isso é uma característica fantástica, porque diferente de uma banda de Death ou outro estilo, o Folk se reinventa a cada banda de determinada região que você ouve. É sempre uma nova descoberta.

O In Extremo é uma banda alemã, que começou sua carreira em 1995, e hoje é uma referência mundial em bandas do estilo supracitado. Flertando com temáticas medievais, usando gaitas-de-fole dos mais variodos estilos (sim, existe mais de um tipo), Bandolim, Chifre, Shalmei, Drehleier, Gaita Irlandesa, Harpa, Sintetizações, etc, a banda consegue soar com identidade, mesmo se inventando a cada novo material lançado. A gama é imensa. A banda é extremamente prolífica.

Mein Rasend Herz é o 7º registro de estúdio da banda. Aqui, o In Extremo retoma um pouco o "puro" Folk Metal, que havia deixado um pouco de lado em registros anteriores, onde tinha flertado - de maneira exagerada, ao meu ver - com a música eletrônica.

A banda adota um estilo mais direto, com o maior uso de gaitas-de-fole possíveis, sem se tornar um trabalho repetitivo e tosco. Os maiores destaques do disco são Fontaine La Jolie, com um refrão extremamente viciante, muito por causa dos vocais de Michael Rhein, um dos pontos mais altos da banda, além de um solo lindísismo de gaita irlandesa; Signapur, onde a banda adota um estilo mais épico, com uma instrumentação forte e marcante, fazendo uso de sentetizadores; e, sem dúvida alguma, Macht und Dummheit, considerada por muitos - inclusive por este que escreve - a melhor música da carreira da banda, com uso de violões acústicos, e um refrão inesquecível, mais uma vez graças a Rhein.

O disco é sólido, e figura facilmente entre os registros mais potentes da história do Folk Metal. Merece ser apreciado por todos que buscam um registro autêntico do que é um Folk Metal feito de maneira competente, sem ter a necessidade de duendes pulando pelo palco.

Tracklist:

01.: Raue See
02.: Horizont
03.: Wessebronner Gebet
04.: Nur Ihr Allein
05.: Fontaine La Jolie
06.: Macht Und Dummheit
07.: Tannhuser
08.: Liam
09.: Rasend Herz
10.: Signapur
11.: Poc Vecem
12.: Spielmann

In Extremo - Mein Rasend Herz

Top 30 | #27 | Erasmo Carlos - Carlos, Erasmo (1971)


É fato que o Tremendão sempre viveu à sombra do bom moço Roberto Carlos. Numa época de grande ingenuidade musical, os dois assumiam papéis de Telecatch, onde Roberto seria uma espécie de Ted Boy Marino e Erasmo, o Coveiro. Papéis criados, cada um ficou com seu pedaço da torta. Roberto ficava com as flores e amores, enquanto Erasmo era o sexo, as drogas e o rock n' roll. Isso acabou por dar ampla vantagem mercadológica a Roberto, que era o queridinho na mídia. Restou a Erasmo a imagem de bad boy.

Mas enquanto sua contraparte boazinha colhia os louros do sucesso, grande parte por causa das parcerias com o Tremendão, Erasmo seguia à margem dos flashes, dadas as devidas proporções. Mas em seu favor havia uma grande competência musical e fluidez de estilos. Roberto não produzia nada além de seus standards românticos cada vez mais bregas. Erasmo partiu para o experimentalismo, alimentando-se de soul e samba, com as necessárias pitadas de rock. E eis que surge esse disco fantástico, o Carlos, Erasmo.

Para o ano, 1971, após o fim recente da Jovem Guarda, o álbum deve ter soado escandaloso para boa parte dos fãs, acostumados com o mamão-com-açucar. E mesmo sob a mira da ditadura, Erasmo conseguiu colocar no mercado uma música como "Maria Joana" que fala exatamente disso que o título diz. O disco já começa com uma festa deliciosa em "De Noite Na Cama", escrita por Caetano Veloso pro Tremendão. Cuíca, berimbau, guitarra discreta que dá o tom, e uma galera da porra arriando no fundo e aparecendo pra cantar o refrão em coro.

Depois, vem uma balada melosa, "Masculino Feminino", em dueto com Marisa Fossa (apropriado, não?). Mas é uma bela música. Segue um rockão, "É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo", tocado com competência. Meio bluseiro, meio soturno. E ele manda bem na funkeada "Dois Animais Na Selva Suja Da Rua". "Gente Aberta" é uma balada suingada, que em alguns momentos tem uma linha de baixo semelhante à de "Ramble On", do Led Zepellin.

Pra fuder a merda, ele manda "Agora Ninguém Chora Mais", de Jorge Ben, num cover fantástico, onde não se percebe a voz de Erasmo, perdida em meio ao coro de vozes sobrepostas. Um dos pontos altos do álbum. "Mundo Deserto" é outra das minhas preferidas. Um disco-rock-soul-funk, mais uma vez permeado por coros e muitos metais. Metais que se repetem em "Ciça Cecília", que foi tema de novela. A já citada "Maria Joana" encerra o disco como ele começa. Com festa, mais berimbau e a Caribe Steel Band, com um coro de fundo sensacional. Chave de ouro.

01. De Noite Na Cama
02. Masculino, Feminino
03. É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo
04. Dois Animais Na Selva Suja Da Rua
05. Gente Aberta
06. Agora Ninguém Chora Mais
07. Sodoma E Gomorra
08. Mundo Deserto
09. Não Te Quero Santa
10. Ciça, Cecília
11. Em Busca Das Canções Perdidas Nº 2
12. 26 Anos De Vida Normal
13. Maria Joana

Isis - Wavering Radiant (2009)

Em meados dos anos 1990, o gênero musical que mais explodiu, em termos numéricos (e nem sempre em termos qualitativos) foi o Metal Melódico, bem como suas variações (Heavy Melódico, Power Melódico, etc). Surgiam bandas aos montes. Parecia que todas já tinham materiais prontos, mas estavam esperando apenas o primeiro registro do estilo aparecer. A partir do ano 2000, a menina dos olhos de ouro da música foi o Sludge. Sendo reducionista e direto, mas didático, o gênero Sludge consiste em um subgênero do Metal (mais precisamente do Doom), com influências do Hardcore e do Punk. Soma-se a isso, pitadas de Música Industrial e do Southern Rock.

E sem dúvida alguma, a banda que encabeça esse gênero musical (que já se ramificou em outros 300 diferentes) é o Isis. A banda é norte-americana, mais precisamente de Boston. Sua carreira tem início em 1998, e a banda já tem no currículo participações dignas, como as de alguns artistas importantes. Como, por exemplo, Mike Patton (Faith No More) e Adam Jones (Tool).

Depois de 3 anos sem um disco oficial lançado (fora EPs), a banda retorna com seu "Wavering Radiant". O quinteto, formado por Aaron Turner, Mike Gallagher, Jeff Caxide, Aaron Harris e Bryant Clifford Meyer, ganhou um status cult, de representante do estilo, após soltar dois clássicos absolutos do gênero: os ótimos Celestial e Panopticon.


O disco segue a mesma linha dos trabalhos anteriores da banda. Músicas longas, complexas, guitarras fortemente distorcidas, uma bateria altíssima, principalmente o bumbo, e os vocais de Aaron Turner, que aparecem hora claros, presentes, hora distantes, como se o mesmo estivesse longe do microfone, criando uma atmosfera interessante em cada música. O legal do Isis, entre outras coisas, é que não são músicas previsíveis. Se em outras bandas você sabe exatamente como será a virada da bateria antes da mesma acontecer, isso é impossível aqui. A instrumentação eletrônica também é presente, e fica cargo do baterista Aaron Haris.

As passagens instrumentais - que são bastante longas - intercaladas com os vocais de Turner dão uma identidade inconfundível à banda. A diferença é que aqui não se vêem solos de guitarras, mas um predomínio do baixo, que parece ser o instrumento-chefe do grupo. A faixa de abetura do CD, Hall of The Dead e a última Threshold of Transformation, são as melhores do trabalho do Isis que, se não supera os dois marcos do estilo, não faz feito, sendo fácil um dos melhores lançamentos de 2009. Obrigatório!


Tracklist:

1 - Hall Of The Dead
2 - Ghost Key
3 - Hand Of The Host
4 - Wavering Radiant
5 - Stone To Wake a Serpent
6 - 20 Minutes / 40 Years
7 - Threshold of Transformation

Isis - Wavering Radiant (2009)

Pearl Jam - No Code (1996)


Talvez o mais obscuro dos álbuns da banda. Se o Vitalogy, de 94, marca o fim de uma era, esse No Code - que veio em seguida - é o começo da nova. Passado todo o frisson de ser uma das bandas que encabeçavam o movimento grunge, o Pearl Jam soa mais tranquilo, não sei se por respeito ao decretado fim do movimento (com a morte de Kurt, o fim do Soundgarden e os problemas de Layne Staley, do Alice In Chains) ou por maturidade mesmo. O 4º álbum de estúdio da banda de Seattle é pouco comercial, a começar pela capa, um mosaico de 144 polaroids que se desdobram e mostram uma foto de estúdio em preto e branco e abriga outras 9 polaroids em tamanho natural com letras de algumas músicas no verso, além, claro, do cd.

Esse foi o primeiro disco da banda que comprei, após ler a crítica de Álvaro Pereira Jr. na Folha de São Paulo pouco após o seu lançamento. Já conhecia a banda de algumas músicas, como "Black" ou "Alive" do Ten, mas só passei a caçá-la realmente após ouvir "I Got Id", que só saiu num compacto chamando Merkinball, que vinha grátis junto com o Mirror Ball de Neil Young.

Aqui, a voz de Eddie Vedder começa a apresentar sinais de desgaste, depois de seu uso exagerado nos primeiros anos da banda. Mas é uma rouquidão que cai bem no No Code, como já pode ser percebido na primeira faixa, a distante, suave e soturna "Sometimes".

Large fingers pushing paint
You're God and you got big hands
The colours blend
The challenges you give, man

Girando 180º vem "Hail, Hail", uma profunda e fantástica DR, com fundo agressivo que torna-se melódico do meio pro fim.

If you're the only one, will I never be enough?
Hail, hail the lucky ones, I refer to those in love

Sometimes realize, I could only be as good as you'll let me
Are you woman enough to be my man?
Bandaged hand in hand

"Who You Are" tem uma levada percurssiva, com uma linha de baixo dissonante e vocais quase gospel. A música seguinte acontece de ser a minha preferida da banda, "In My Tree". Álvaro Pereira Jr. acertou em cheio na sua descrição, ao dizer que ela soa como se Vedder estivesse cantando da beira de um precipício. O baixo constante e entediante do início, acompanhando dos tons de Jack Irons, passam por uma bridge onde a guitarra dá leves toques com muito delay, para desafogar num refrão vigoroso. Vedder canta com muita franqueza uma letra extremamente pessoal.

I'm so light the wind me shakes
I'm so high the sky I scrape
Yea, I'm so high I hold just one breath
To go back to my nest, to sleep with innocence

"Smile" é um blues que tenta ser feliz e traz você de volta ao mundo. "Off He Goes" é uma bela balada acústica com uma letra-história no melhor estilo Vedder.

And I wonder bout his insides
Its like his thoughts are too big for his size
He's been taken, where I don't know
Off he goes with his perfectly unkept hope
There he goes

"Habit" é a mais pesada do disco, com McCready e Gossard querendo arrancar as cordas da guitarra e o vocal de Vedder rasgado. Assim como "Hail, Hail", ela tem quê de anos 70. "Red Mosquito" é outro blues, onde a voz dele parece querer voltar. "Lukin" é praticamente uma vinheta de um minuto que conta uma pequena saga urbana. Pesada. "Present Tense" seria, talvez, a música mais comercial daqui. Uma bela balada semi-acústica onde os vocais novamente se destacam, além da letra.

You can spend your time alone
Redigesting past regrets
Or you can come to terms and realize
You're the only one who cannot forgive yourself
Make much more sense
To live in the present tense

"Mankind" é um punk-rock-3-acordes cantado por Gossard, sem muitas firulas. A faixa que se segue "I'm Open" é praticamente um mantra Enya-style que pode figurar entra as músicas mais estranhas da banda. Fechando o álbum, "Around The Bend", baladinha suave que sincronizaria bem com o vai-e-vem das ondas do mar, naquele clima de fim de tarde. Bom disco, um dos melhores dessa ex-banda e ex-banda preferida.

01. Sometimes
02. Hail, Hail
03. Who You Are
04. In My Tree
05. Smile
06. Off He Goes
07. Habit
08. Red Mosquito
09. Lukin
10. Present Tense
11. Mankind
12. I'm Open
13. Around the Bend

Pearl Jam - No Code

Devin Townsend Project - Addicted (2009)

Você conhece o músico canadense que atende pelo nome de Devin Townsend? Não? Então está perdendo um dos seres vivos mais prolíficos do mundo da música. Este senhor é nascido em 5 de Maio de 1972, e é considerado um dos melhores e mais controversos músicos do mundo. Quem lê esse Blog sabe sempre procuro sonoridades singulares, originais, trabalhadas e, principalmente, músicos que não tenham limites criativos, mesmo que criem merdas em algum determinado momento de sua carreira. "Só erra quem tá lá, sacô truta?"

Atente bem para o nome da "banda": É Devin Townsend Project. Não é Devin Townsend ou The Devin Townsend Band. Esses dois sendo "projetos diferentes" de Devin. Com sonoridades completamente diferentes, esses projetos fazem parte de Devin, que tem uma discografia extremamente extensa, mas que dá guinadas violentas em sua sonoridade. Exatamente por isso a quantidade de ramificações do que, para algum desavisado, poderia soar como a mesma coisa.

Devin Townsend Project é um outro vertente do trabalho dele, considerado pelo mesmo um trabalho em separado, no tocante a sua discografia. O projeto compreende quatro álbuns de diferentes estilos musicais, cada um com um conjunto diferente de participações/ músicos de apoio a Townsend.

O Addicted já é o segundo trabalho dessa quadrilogia, que teve o álbum "Ki" como seu ponto de partida. Os discos, como já foi dito, não são interligados. Não tem nenhuma historinha ou qualquer espécie de jornada conceitual. É apenas um músico explorando ao máximo sua capacidade inventiva.

Neste trabalho, Devin trabalha ao lado de outra mente genial. A vocalista holandesa Anneke van Giersbergen, ex-vocalista do The Gathering, em duetos espetaculares. O som caracteriza-se por uma pegada progressiva e industrial, com um forte uso de sintetizadores e demais sonoridades eletrônicas.

O disco tem uma sonoridade grandiosa, e pode não agradar aos fãs "véios" de Townsend, visto que é mais puxado pra um "Pop Complexo". Townsend faz um uso de guitarras tradicionais, sem usar baixa distorção, e deixando de lado os vocais guturais insanos, que o eternizaram no Strapping Young Lad. O disco é uma verdadeira montanha-russa, tendo faixas praticamente a cappela, e canções fortes, grandiosas, como é o caso de "Supercrush" e "Hyperdrive".

O desempenho de Anneke é o esperado: Esplêndido. Melhor do que eu, é melhor a opinião do malucão sobre o disco:

"Mas, de várias formas, eu acho que o que 'Addicted', esse disco, é sobre é, bem, dizer que não há nada mais. Dizer que isso é tudo. Sabe, que há esse infinito espaço de nada sobre nós e tudo o que temos é, tipo, um bando de outros humanos. Então qual é o resultado final disso? E, por anos, minha música tem sido realmente meio metafórica, e tem havido muita escuridão na música. Mas a percepção de que talvez não haja nada mais foi realmente revigorante pra mim porque eu pensei. 'Ok, se não há mais nada, então tudo o que precisamos ter é uns aos outros. Então o que nós queremos fazer? Nós provamos uns aos outros que estamos certos?'"

Tá dentro da aventura? Mergulha no mundo de Devin Townsend, e tu vai ver que nem precisa mais de álcool, nem nenhuma outra droga, mano.

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