Machines Of Loving Grace - Concentration (1993)

Os anos 80 viram o espocar de uma insuportável onda de música eletrônica que, se não mostrou qualidade suficiente, serviu para influenciar as próximas décadas. Os tecladinhos, samplers e sintetizadores fizeram a cabeça de muita gente, e essa gente acabou encontrando alguma utilidade para essa parafernália. Influenciados pelas bandas que se salvaram dos 80's, como Depeche Mode, New Order e Duran Duran, eles adicionaram o elemento rock que faltava ao adocicado synth pop da época. Mas quem são eles, oh, quem são? Provavelmente Trent Reznor e Al Jourgensen, criadores do Nine Inch Nails e Ministry, respectivamente, e fundadores do so called rock industrial, no fim da supracitada década.

Alguém me perguntou uma vez sobre o Nine Inch Nails e eu disse que era uma banda de rock industrial, no que o sujeito retrucou "rock industrial? Que é isso? Rock de usineiro?" Isso foi pouco depois de conhecer a trilha d'O Corvo, de 1994, recheado de bandas do estilo. Foi ali que comecei a simpatizar com as batidas eletrônicas misturadas com guitarras pesadas e efeitos mecânicos e metálicos. Uma das que mais me chamou a atenção foi o Machines Of Loving Grace, banda do Arizona. A música em questão era "Golgotha Tenement Blues", feita exclusivamente para o filme, e ela tinha um clima sombrio, pesadão, com sons de ferramentas caindo no chão. Isso foi fantástico pra mim, e até hoje a música soa extremamente atual. A banda acabou em 97 e depois de um hiato provocado pela escassez de mp3 da época, só consegui acesso ao restante do material da banda recentemente. Esse Concentration é o primeiro álbum da banda e, pra mim, o que tem mais atmosfera.

O baixo é bastante acentuado na maioria das músicas e a guitarra passa como serra elétrica por elas. E o som, de fato, dá a impressão que o disco foi gravado entre correntes, rolamentos, esteiras e máquinas de uma fábrica com pé direito monstruoso. Tudo ecoa soturnamente. Grande disco, de um gênero que praticamente foi aposentado.

01. Perfect Tan (Bikini Atoll)
02. Butterfly Wings
03. Lilith/Eve
04. Albert Speer
05. Limiter
06. If I Should Explode
07. Shake
08. Cheap
09. Acceleration
10. Ancestor Cult
11. Content?
12. Trigger for Happiness


E pra quem quiser curtir a música da trilha de O Corvo, um industrial na sua mais pura essência, ei-la aqui:

Green Carnation - The Quiet Offspring (2005)

Existem certas bandas que simplesmente não conseguem ser encaixadas satisfatoriamente em nenhuma classificação. Não são rotuladas de tal forma, que se agrade a gregos e troianos. Isso soa originalidade, algo tão raro atualmente, na indústria musical. Quantas e quantas vezes você ouve uma banda de Death, Black, Melódico, Folk e tem a certeza de já ter ouvido aquilo antes? Maior merda. Chega se perde o tesão de continuar a ouvir o CD.

Não ocorre com o Green Carnation. A banda começou como um projeto paralelo do ex-guitarristaa do Emperor e Carpathian Forest, Tchort. Saindo um pouco da esfera extrema do Black Metal que suas duas bandas apresentavam, Tchort buscou algo mais intimista, pessoal. Junto com Kjetil Nordhus, que foi por anos o vocalista do Tristania, conseguiu fazer um som com cara e sonoridade próprias, totalmente único.

A banda começou suas atividades no início dos anos 1990 e alcançou reconhecimento rapidamente, em 2003, com o lançamento do "A Blessing In Disguise". O disco, classificado por revistas especializadas como "NeoProgressive Metal" agradou em cheio, mesmo sendo classificado como tendo uma audição difícil, complicada de "engolir" nas primeiras tentativas.

Em 2005 foi lançado o disco analisado aqui em questão. The Quiet Offspring levou a banda para um lado mais comercial e acessível a novos ouvidos. O que quase sempre é sinônimo de desgraça para muitas bandas, não alterou em nada o processo criativo do Green Carnation.

O álbum fala das experiências de todos os integrantes. Experiências de vida de uma maneira geral. Não existe um direcionamento específico. Fala da complicada convivência em sociedade de pessoas críticas, questionadoras; de desilusões amorosas; do choque de lidar com a morte pela primeira vez. Da relação entre vida e morte, de como nós ainda temos dificuldades extremas em encarar e lidar com esses fatos.

O disco é mais fácil de ouvir justamente pela inclusão de riffs mais comerciais na maioria das músicas. A primeira faixa do disco, homônima ao título do mesmo, apresenta isso logo com 5 segundos de música. Riffs com alta distorção, beirando o New Metal, podem chocar os fãs mais antigos do grupo, e maravilhar quem está se encontrando com a banda pela primeira vez.

Mas, com o passar das faixas, o Green Carnation mostra que continua o mesmo grupo intimista, pessoal e conflituoso de sempre. Faixas como A Place For Me, de autoria de Tchort, onde o mesmo se mostra totalmente perdido em suas escolhas de vida, ou em Purple Door, Pitch Black, candidata a mais bela faixa do disco, com uma introdução esplêndida, onde o vocalista se mostra descrente com a continuidade dos homens, em "so save me, I'm falling, and I don't have the strenght to go on", mostram que todas as características da banda estão presentes.

Em Dead But Dreaming, os riffs-facilitadores voltam, e mostram que é perfeitamente possível fazer um som acessível ao grande público, e de excelentíssima qualidade.

Sou dos que acham que se o guitarrista do Green Carnation peidar, vai ser foda. A banda entrou num hiato indeterminado depois de 2007, e eu sigo firme e forte em minhas macumbas para que eles voltem. O que é bom tem que perdurar, e 17 anos é muito pouco tempo.


Green Carnation - The Quiet Offspring

The Flaming Lips - Embryonic (2009)


Maldita hora que fui inventar um Top 30. Esse disco só apareceu depois, e certamente ficaria entre os 10 melhores. Entre 0s 5, aliás. Ou até entre os 3. Se brincar, desbancava o número 1. Disco do ano. Melhor. Se Ok Computer foi o grande disco dos anos 90 (foi mal, Nevermind), esse é o melhor dos anos 2000, ganhando o título aos 45 do segundo tempo.

Seria pouco provável que uma banda com 26 anos de estrada lançasse um petardo desses nessa altura do campeonato, mesmo com seus aclamados últimos álbuns. Uma das poucas bandas no cenário atual que consegue manter tamanha regularidade depois de tanto tempo. Pois, o som do Flaming Lips preza pela psicodelia extrema. Uma heterogeneidade que sempre pega os mais despreparados de surpresa. E ainda assim, com toda a crítica favorável e os prêmios, a banda consegue se manter fora do mainstream.

Tenho pouco pra falar desse Embryonic. É simplesmente fantástico. Lindo em cada acorde sujo que permeia todas as 18 faixas. Velho, eles usam HARPAS! Um instrumento quase extinto e obsoleto. E eles as usam com propriedade. Os demais arranjos de cordas são sensacionais, como em "Scorpio Sword" e "Aquarius Sabotage". A faixa que a sucede, "The Impulse" é a mais retrô de todas, impulsionada pelo vocoder de Wayne Coyne. "Worm Mountains" é uma porrada vigorosa, a melhor do disco, com participação do MGMT. "Virgo Self-Esteem Broadcast" muito me lembra a parte final de "Steam Will Rise", do Silverchair, porém com requintes de telescópio. Linda. "I Can Be A Frog" é uma música bonitinha, que conta com a participação de Karen O, do Yeah Yeah Yeahs, nos vocais gravados por telefone, onde ela imita os animais que Wayne vai pedindo durante a música.

Porra, não vou falar mais dessa obra de arte. É perfeito. Wayne Coyne admitiu ter bebido de fontes como o Psycho Graffiti do Led Zepellin e o White Album dos Beatles. E o disco é propositalmente cheio de ruídos e mal-gravado. Puta que pariu, é foda!

01. Convinced Of The Hex
02. The Sparrow Looks Up At The Machine
03. Evil
04. Aquarious Sabotage
05. See The Leaves
06. If
07. Gemini Syringes
08. Your Bats
09. Powerless
10. The Ego's Last Stand
11. I Can Be A Frog
12. Sagittarius Silver Announcement
13. Worm Mountain
14. Scorpio Sword
15. The Impulse
16. Silver Trembling Hands
17. Virgo Self-Esteem Broadcast
18. Watching The Planets
2004 foi um anoi extremamente produtivo, em termos de grandes lançamentos no - meu - mundo musical. Bandas como Die Apokalyptischen Reiter, Amon Amarth e Dargaard lançaram CDs que podem ser facilmente enquadrados como seus melhores, ou um dos melhores.

No caso do Orphaned Land, foi um pouco diferente. A banda vinha de um longo hiato de mais de 6 anos sem lançar nenhum disco de estúdio. Muitos achavam que a banda tinha, inclusive, encerrado as atividades. Ledo engano. Os israelenses executam um Folk característico do Oriente Médio: Instrumentos musicais existentes apenas naquela região do globo, tornam o som da banda único, englobando música Folk, popular de Israel, Death Metal, música progressive, percussão oriental, entre outras aventuras. Tudo feito com uma elegância e técnica ímpar.

O quinteto, formado por Kobi Farh, Yossi Sassi, Matti Svatizky, Uri Zelcha e Eden Rabin produziu esse disco, que até hoje é considerado como um dos melhores do novo século, dentro das várias esferas do Metal.

Mabool: The Story Of The Three Sons Of Seven é o terceiro álbum Orphaned Land. O conceito gira em torno do grande dilúvio bíblico e da consequente divisão das três religiões abraâmicas: O cristianismo, o judaísmo e o islamismo. As canções são relaxantes e potentes e emocionais. Cada um por si, uma pequena obra-prima.

Destaque absoluta para a faixa 01, Birth Of The Three (The Unificcation) e para a faixa 03, The Kiss Of Babylon (The Sins), que, juntas, englobam tudo o que está presente no CD. Cantores israelense, declamando cânticos religosos populares, em meio a uma tempestade de flautas, instrumentos de corda, e os vocais precisos de Kobi, que passeiam entre o gutural e o mais suave dos tons.

O disco é cantado em hebráico e em inglês, tornando a sonoridade ainda mais peculiar e interessante. Esse disco foi um marco na carreira da banda, que depois do mesmo, se viu alçada a um novo patamar dentro do Metal, entrando no Hall dos grandes.

Uma absoluta obra-prima da música. Um dos meus discos favoritos, que merece ser apreciado.

The Story Of Three Sons of Seven

The Mars Volta - Tremulant (2002)

Que o Mars Volta é uma das bandinhas mais contraditórias, questionadas, ora superestimada, ora subestimada, quem conhece sabe. Muitos os criticam pelo caos que criaram em seus álbuns, com suas melodias quebradas, sons agudos, batidas inconstantes e alucinadas, letras desconexas e até o uso de falsetes por parte Cedric Bixler-Zavala, que junto com Omar Rodriguez-Lopez formou a banda, após a saída de ambos do At The Drive-In por divergências criativas (os demais membros formaram o Sparta).

O Tremulant foi o EP que os apresentou ao mundo. Ele abre com uma introdução percurssiva de dois minutos em "Cut That City", para explodir repentinamente. É o início da indisciplinada harmonia da banda. Eles abusam do uso de distorções nos vocais no meio da música e de ecos nos vocais do refrão. Depois disso, vem "Concertina", que começa lenta para depois explodir num refrão vigoroso. Após o refrão, mais uma característica da banda que eles carregaram nos outros álbuns: letras em espanhol. Nova explosão do refrão, seguida por um dos vários riffs complicadíssimos de Rodriguez-Lopez.

Fechando o EP, vem minha faixa preferida: "Eunuch Provocateur" e seus quase 9 minutos. Ela começa com um riff firme e repetitivo, pára para um sampler de um antigo disco de vinil que a banda utilizou e explode numa porrada. Destaque para o teclado, que dá o ar jazzístico da música. Aqui, a bateria não é tocada; ela apanha. No fim da música, novo sampler. Dessa vez, da canção popular "Itsy Bitsy Spider", tocada de trás pra frente.

Eu encaixaria esse EP entre o "Frances The Mute" e o "De-Loused In The Comatorium", na minha lista de preferência, pelo simples fato de suas 3 músicas serem excelentes.

01. Cut That City
02. Concertina
03. Eunuch Provocateur

The Mars Volta - Tremulant

Rammstein - Liebe Ist Für Alle Da (2009)

Finalmente! A espera terminou. Depois de muito disse-me-disse, o Rammstein apareceu.

E depois de dois álbuns com muita experimentação, o Rammstein digere bem o que aprendeu e retorna para uma linha mais próxima do excelente 'Mutter' neste 'Liebe ist für alle da' ou simplesmente LIFAD. A comparação com 'Mutter' é injusta para uma banda que sempre explorou muito bem as possibilidades sonoras criadas por Flake Lorenz e companhia, mas é a referência mais notável nas onze faixas, que soam tão variadamente como o Dimmu Borgir em 'In Sorte Diaboli' e o RUSH em 'Snakes & Arrows' (o riff de Roter Sand evoca instantaneamente Bravest Face do trio canadense).

'Rammlied' abre o álbum com a precisão característica dos alemães, com coro no refrão e um riff direto e poderoso. 'Ich Tu Dir Weh' inicia com um teclado suave e segue alternando levadas muito pesadas e um tema principal que é, na medida do possível, suave. 'Waidmanns Hail' é direta, numa pegada de marcha militar que lembra 'Links 2-3-4'. Já 'Haifisch' começa como uma releitura do tema que abre o primeiro disco do sexteto alemão, resgatando muito do estilo característico dos dois primeiros álbuns da banda.

'B********' lembra a fenomenal 'Mein Teil', com o teclado criando um clima de horror e os vocais transitando entre sussurros e o refrão urrado. 'Fruhling in Paris' traz um belo trabalho de cordas, com Till interpretando a letra de maneira bem suave, como em algumas canções do 'Rosenrot'. Mais uma das canções baseada em fatos reais, 'Wiener Blut' trata do caso do austríaco Josef Fritzl, o pai incestuoso que teve sete filhos com sua filha mais velha, mantida em cativeiro num porão durante 24 anos.

'Pussy' é o primeiro single do álbum e fala sobre turismo sexual. Cantada em inglês e alemão, teve seu videoclipe divulgado através de um site de hospedagem de vídeos pornográficos, dado o conteúdo sexualmente explícito. A canção-título é a mais curta do álbum e passa como um dos momentos menos inspirados do trabalho. O disco se fecha com duas canções que flertam com o quê o Rammstein faz de mais parecido com uma balada, como também terminava seu álbum anterior, mas sem o brilhantismo de 'Los' ou 'Amour'.

LIFAD não é o melhor álbum do Rammstein, mas é maduro e consistente, fazendo jus ao alto nível de todos os lançamentos da banda. Resta torcer para que a turnê deste sexto disco dos alemães os traga de volta ao Brasil, desta vez como atração principal. E este que vos fala, estará lá.


Liebe Ist Fur Alle Da

Top 30 | #28 | Prodigy - The Fat Of The Land (1997)


Enfim, o homem colocou um disco decente aí. O Perfect Circle, diria, é um Tool mais acessível, saindo de temas como filosofia oriental, essência humana e aliens para uma atmosfera mais medieval, antiga. Brevemente, eles aparecerão de novo aqui.

Quando era jovem, nutria um preconceito terrível pela chamada música eletrônica e suas vertentes, o tecnô, o house, o drum n' bass, sasporras. Muito disso veio da insuportável Jovem Pan e Suas Sete Melhores. Então, tudo o que se ouvia era Scatman John, Corona, Haddaway e Double You. E isso, convenhamos, era um lixo. Então, pra mim, se não tinha guitarra - como já dissera em outro post - não prestava. Tinha que ser sujo e pesado (não um XXX, ncecessariamente). Em meados de 97, 98, eu já estava enveredando pro lado do industrial, depois de ouvir a trilha de O Corvo, com Gravity Kills e Machines Of Loving Grace, e de conhecer Trent Reznor. A mistura do eletrônico com o rock começou a soar redonda.

Então, pra curtir o Prodigy nem foi tão difícil. Era eletrônico? Sim. Mas tinha peso, inclusive até algumas guitarras. Mas, mais que o peso dos instrumentos, havia a atmosfera suja, junkie e subterrânea. Quando "Breathe" estourou, foi uma revolução na minha cabeça. Do visual dos caras ao visual do próprio clipe, passando pelo som cadavérico dos sujeitos. O baixo frenético e alto, a batida seca e a guitarra distorcida do refrão transformavam aquilo num... rock.

"Firestarter" foi outra que pipocou, e seguia a mesma linha da primeira. O sotaque fortíssimo de Keith Flint, a batida alucinante e um instrumental que muito lembra um amedrontador zumbido de inseto faziam dela uma música pouco apropriada para pistas de dança. Caso tocasse numa pista de dança, pouco se conseguiria em termos de flerte.

Mas a verdadeira polêmica girava em torno da faixa que abre o disco, "Smack My Bitch Up". A introdução da guitarra já dá o tom da música. Mais pesada que ela, só o clipe. Filmado em primeira pessoa, contém cenas de agressão, aplicação de drogas, direção irresponsável, nudez e sexo, tendo sido proibido em uma porrada de países. E onde é liberado, o clipe só pode passar depois de 0h. Não sei se esse tipo de repressão funciona. Pra mim, serve mais para instigar e dar más ideias.

Excelente disco. Um divisor de águas do gênero, na época. E pra fazer uma banda de eletrônica participar de festivais de rock mundo afora e ser bem-recebida, tem que ser bom mesmo.

01. Smack My Bitch Up
02. Breathe
03. Diesel Power
04. Funky Shit
05. Serial Thrilla
06. Mindfields
07. Narayan
08. Firestarter
09. Climbatize
10. Fuel My Fire

Prodigy - The Fat Of The Land
Maynard James Keenan é um cara engraçado. O cara, no começo dos anos 1980, trabalhava em design de interiores em, Los Angeles, EUA. Ao longo da década, começou a tocar com uns amigos do trabalho e, no final dessa década e começo dos anos 1990, fundou o Tool. Essa banda, carro chefe de Maynard, é caracterizada por um som mais puxado para o Heavy Metal, no começo de sua carreira, e mergulhando fundo no que chamam de "Metal Alternativo" nos anos posteriores. Mas tudo isso, sinceramente, seria limitar demais os horizontes de Maynard. Tanto no Tool, quanto no A Perfect Circle, seus limites musicais são totalmente flexíveis.

O A Perfect Circle surgiu após uma longa batalha judicial entre Maynard e outros membros do Tool, com o primeiro fundando aquela banda em 1999. Logo depois, em 2000, a banda soltaria seu primeiro material, chamado Mer de Noms.
É considerado por muitos como o melhor trabalho do grupo até agora.

'Mer de Noms' significa 'Mar de Nomes'. Ao virar o CD e ler a contracapa, entendemos o porquê. Entre as 12 faixas do CD, 7 são nomes de pessoas.

A diversidade encontrada nesse álbum impede que o ouvinte fique indiferente à mudança de estilos.
Existem lindas baladas, como 3 Libras, Breña e a incrível Orestes (que tem uma das mais belas frases de toda a banda, "one more medicated peaceful moment (give me)"), que conta a lenda mitológica da visão do próprio Orestes.

Maynard mostra toda sua mágoa contra a própria mãe em Judith, onde 'desafia' o Deus em quem ela confiou ao recusar o tratamento contra seu câncer, levando-a a morrer. Temos faixas que te deixam angustiado (positivamente), com um ritmo prestes a explodir ao menor esforço (Rose é o melhor exemplo disso). A bela Renholdër, um instrumental com uma pegada introdutório, deixando você na expectativa do que virá depois. Tudo regado a excelente técnica musical, baixa distorção de guitarras, num clima absurdamente intimista e pessoal, preconizado por Maynard.

Enfim, esse é o tipo de disco onde qualquer ouvinte encontra pelo menos uma ou duas faixas que deixaria no repeat. E se você gosta de variedade e beleza, não pode deixar de ter este álbum na sua coleção.

1. The Hollow (2:55)
2. Magdalena (4:03)
3. Rose (3:24)
4. Judith (4:03)
5. Orestes (4:45)
6. 3 Libras (3:35)
7. Sleeping Beauty (4:10)
8. Thomas (3:29)
9. Renholdër (2:24)
10. Thinking Of You (4:31)
11. Breña (4:02)
12. Over (2:20)

Mer de Noms

Inglourious Basterds - Original Soundratck (2009)

Tô dizendo que tudo gira em volta do anel... o cara posta a trilha medieval-fantástica da orgia de Tolkien e depois vem dizer que eu implico. "Oooh! Trilha sonora com orquestra!" Que novidade, hein? Quase tão previsível quanto a vitória do mocinho, o casamento da menina que odeia um cara e casa com ele mesmo ou a volta de Jason no próximo Sexta-Feira 13. Inclusive, essas trilhas tornam o próprio filme previsível. Cena de expectativa, suspense? Coloca aquela trilha que começa baixinha e vai subindo de acordo com a tensão. É tiro e queda, vá por mim. Isso vem funcionando há quase 50 anos. Hitchcock foi genial no seu Psicose. Spielberg fez o mesmo com Tubarão, copiando o primeiro. E daí, foi uma sucessão de repetições.

Mas eis que apareceu Tarantino. Esse não tem nada de original. Toda a sua obra foi feita à base de uma mistura heterogênea de influências que permearam toda a sua vida, de filmes de kung-fu e westerns dos anos 70 a Scorceses puro malte. Mas ele tem uma diferença: a dignidade de assumir isso. Mas ele tem seus méritos. Ele injetou cultura pop em filmes que prezam pela sem-vergonhice, pela violência gratuita e pelos diálogos épicos ("What motorcycle is this?" "It's a chopper, babe" "And whose chopper is this?" "It's Zed's" "Who's Zed?" "Zed's dead, babe... Zed's dead"), que inspirou um certo carinha chamado Guy Ritchie, que mandou bem nos seus Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch.

Pulp Fiction foi o filme que o consagrou. E merecidamente. A ação despudorada e sem censura andando de mãos dadas com o humor ácido e ignorante de Tarantino transformaram o filme num dos maiores clássicos da história. E revelaram uma outra faceta do diretor: seu esmero e meticulosidade na hora de montar suas trilhas sonoras. Na verdade, parece que ele se diverte mais fazendo essa parte que os próprios filmes. E são, de fato, verdadeiros espetáculos à parte. A trilha de Pulp Fiction é uma das mais bem-sacadas que Hollywood já ouviu, incluindo nela "as cinco melhores bandas obscuras de surf music da história". E apesar do ecletismo da seleção, em nenhum momento qualquer uma das músicas fica deslocada em relação ao filme. E essa é a arte da trilha sonora: surpreender. E Tarantino sempre consegue arrancar um sorriso da platéia ao apresentar cada música de suas trilhas nos filmes.

E sua capacidade foi mostrada novamente em Jackie Brown, Kill Bill, Grindhouse e, agora, em Inglourious Basterds. Engraçado ver um filme passado na Segunda Guerra com todas as suas músicas sido compostas apenas décadas mais tarde. E todas elas foram sugadas de outros filmes, mostrando quantas faces uma mesma música pode ter. As vinhetas que apresentam os personagens dão uma dinâmica HQnesca à coisa. E em nenhum outro filme você poderá ver um Hitler atuando sobre um fundo musical country. Pra mim, o grande destaque fica por conta de "Cat People (Putting Out The Fire)", de David Bowie, tocando inteira quando a heroína judia Shoshanna prepara seu cinema para pegar fogo, preparando seu figurino femme fatale, e enquanto os figurões da SS vão se acomodando em suas poltronas.

Trilhaça para um filmaço.

01. Nick Perito - The Green Leaves Of Summer
02. Ennio Morricone - The Veredict Dopo La Condanna
03. Charles Bernstein - White Lightning
04. Billy Preston - Slaughter
05. Ennio Morricone - The Surrender La Resa
06. The Film Studio Orchestra - One Silver Dollar Un Dollaro Bucato
07. Zarah Leander - Davon Geht Die Welt Nicht Unter
08. Samantha Shelton & Michael Andrew - the Man With The Big Sombrero
09. Lilian Harvey & Willy Fritsch - Ich Wollt Ich Waer Ein Huhn
10. Jacques Loussier-Main Theme from Dark of the Sun
11. David Bowie - Cat People (Putting Out The Fire)
12. Lalo Schifrin - Tiger Tank
13. Ennio Morricone - Un Amico
14. Ennio Morricone - Rabbia E Tarantella

Inglourious Basterds - Original Soundratck
Sou um aficcionado por trilhas sonoras de filmes épicos. Acho que compositores como Hans Zimmer, John Williams e Howard Shore conseguem produzir obras primas que transpassam, e muito, o filme, sendo responsáveis por metade (e olhe lá) do sucesso de um filme. Já conseguiram imaginar o filme "Gladiador", na cena da morte de Maximus, sem aquela música ao fundo? Trilhas sonoras são partes fundamentais.

Falando deste trabalho de Howard Shore, a primeira parte da trilogia escrita por Tolkien, Shore compôs uma música emocionante, em forma de ópera, desenvolvendo na trilha sonora mais de 80 leitmotivs específicos, que caracterizam as culturas da Terra-Média, as quais se referem.

A música foi feita, principalmente, pela London Philarmonic Orchestra e a London Voices, com a New Zealand Symphony Orchestra contribuindo com algumas das primeiras músicas de Moria.

A trilha sonora para a Sociedade do Anel e O Retorno do Rei ganharam o Academy Awards em 2002 e 2004. O último filme também ganhou um Oscar de Melhor Canção, bem como os Globos de Ouro de Melhor Trilha Sonora Original - Motion Picture e Melhor Canção Original. A música de Shore para O Senhor dos Anéis se tornou o maior sucesso de sua carreira , e é uma das mais populares trilhas sonoras orquestrais para filme de todos os tempos.

O estudo feito para que as composições fossem feitas foi gigantesco e árduo. Shore leu todos os livros de Tolkien, e anotou cada característica das diferentes culturas que deveria representar em suas orquestrações. O compositor teve acesso, também, às cartas de Tolkien, onde o mesmo se aprofundava em determinados povos, bem como seus hábitos, modos de vida e idiomas.

O resultado disso é uma música impactante, forte, em perfeita sintonia com o filme. Todo mundo já deve ter ouvido a passagem chave da orquestração, e muitos, que nem sabem que se trata de O Senhor dos Anéis, também a conhecem. Neste primeiro trabalho, músicas como The Bridge of Khazad Dum, e também a música gravada pela cantora e compositora Enya, The Council of Elrond, Featuring Anrion (Theme for Aragorn and Arwen), dão o toque do que o fã do filme (e de ópera) pode esperar.

Uma música de extrema qualidade, que consegue elevar o ouvinte aos campos de batalha do filme, como também as mais lindas paisagens da Terra-Média. Um clássico, que tem de estar na prateleira de todo amante da boa música.


A Sociedade do Anel
Eu fico pensando. Como se pode encontrar beleza num... doom metal? Num black metal? Num grindcore? Onde estão as nuances? Aquelas que você percebe enquanto beberica uma dose de qualquer destilado? Aquelas que fazem você afundar no sofá ou poltrona e abandonar os air sticks por um breve momento? Devem estar aqui, num disco do Hypnotic Brass Ensemble.

O noneto de Chicago conta com 8 filhos do músico Phil Cohran, que já trabalhou com algumas feras da Motown nas décadas de 60 e 70. E como filho de fera é ferinha, seus rebentos multiplicaram seu talento. Esse disco é independente e foi lançado em 2005, mas não deixa nada a desejar na produção. Pros amantes de metais, isso é um prato cheio. E oito ferros (há ainda um jogo de panelas) trabalhando nessa harmonia é um júbilo. A coisa vai do clima intimista de "Jupiter" às dançantes "Birthday" e "Frankincense" numa técnica impressionante. Ainda há ecos de Quincy Jones e muita blaxploitation em "New Earth".

Disquinho excelente, pra ouvir várias vezes, sem enjoar. Funciona pra relaxar ou pra festejar, com a mesma eficácia.

01. Jupiter
02. Pops Riff
03. Birthday
04. Frankincense
05. New Earth
06. Paradise
07. Randolph St. Swing
08. Emmet Till
09. Balicky Bon

Hypnotic Brass Ensemble - Green

Immortal - All Shall Fall (2009)

Um post para recuperar a essência beligerante deste espaço de duelos musicais.

Protagonizo outro retorno musical neste blog. Depois de 7 anos, um dos pioneiros e ainda principais bandas do Black Metal voltou. O Immortal, após o Songs Of Northern Darkness, de 2002, resolveu encerrar suas atividades, deixando meio órfão quem era fã do estilo. A banda sempre foi famosa, entre outras característica, por dois pontos: As fotos tosquíssimas dos integrantes da banda (se não acredita, entre no Google Imagens e procure) e a extrema qualidade com que faziam sua música.

Mesmo sem recursos nos primeiros álbuns, via-se que a banda se destacava dentro do cenário clichê do Black Metal, que começou na Noruega no final dos anos 1980 e depois explodiu para o mundo. E isso perdura até hoje. A música feita por Abbath, Appolyon, e Horgh segue a mesma linha desde seu início: Extremismo musical, sem ser aquele tipo de som-ventilador. O corpse paint e a excelente performance dos músicos, tanto em estúdio, quanto no palco, é um atestado da supremacia de um dos reis do Black Metal.

Em All Shall Fall, a banda acertou em cheio ao não mudar radicalmente sua forma de escrever nem de tocar. As letras são diretas, sem floreios. A primeira faixa, homônima ao Cd, começa com Armed in the fires of combat, The end will come fast on this day, Stronger than the gods we fought, Triumphant for the dark prophecie.

O disco todo não se trata de um satanismo tosco e sem profundidade, como é normal em bandas atuais. Por outro lado, a banda não enveredou pelas bandas do Punk Rock, como outros pilares do Black Metal, como o Darkthrone e Satyricon fizeram, descaracterizando completamente sua sonoridade.

É exatamente esse aparente imobilismo que faz o Immortal ser tão cultuado. A banda parece ter parado no tempo, desde o começo dos anos 1990, seguindo a mesma prática até hoje. Mas, como eu fiz questão de frizar, é apenas aparente. A maturidade dos músicos é perceptível. Em The Rise of Darkness a banda consegue traduzir soa força e seu extremismo logo nos primeiros segundos da música. Bateria nas alturas; riffs sujos, uma má-produção para disfarçar, e um som direto, cortante, sem frescura.

Um viva para o conservadorismo. Um Hail para os mestres. Hail, Immortal!

Immortal - All Shall Fall

Vampire Weekend - Vampire Weekend (2008)

Quando se pensa que o rock já esgotou suas possibilidades e caminha para uma débil e eterna repetição de si mesmo, com as bandas voltando no tempo para angariar novas ideias, eis que surge a porra do Vampire Weekend e caga pra todo esse revival. A primeira crítica que li sobre esse disco era no mínimo suspeita. "Mistura rock com ritmos africanos", dizia. Ritmos africanos? Que merda é essa? Outro Live Aid? Paul Simon e suas tarimbas world music? Sting convocando uns músicos do Quênia pra uma turnê? Youssou N'Dour ganhou um rival? Não. A parada aqui é autêntica.

A banda novaiorquina foi eleita por vários veículos como a grande revelação indie de 2008. E, de fato, eles fizeram por merecer. A fusão com os ritmos africanos não soa ridícula como se imagina. "Mansard Roof" pode assustar um pouco, com sua batucada meio axé, mas é só impressão. Aos poucos, os ecos da savana vão diluindo-se, tornando as músicas mais uniformes e coerentes. "M79" ficou até meio conhecida aqui no Brasil, pois foi incluída num comercial da Vivo. "A-Punk" e "Campus" são as mais elétricas do disco, onde os teclados ficam mais em segundo plano, dando espaço para as guitarras aparecerem. "Bryn", pra mim, é a música do Calypso. Não sei porque, só acho seu começo parecido com alguma coisa da banda paraense. Mas é uma música bonita, meio triste.

"I Stand Corrected" se encaixaria fácil numa trilha sonora de qualquer filme. E o disco encerra, num apropriado clima de despedida, com "The Kids Don't Stand A Chance". É umas das coisas mais divertidas que tenho pra escutar. E se eles ganharam todos os elogios possíveis da mídia especializada, foi por mero merecimento.

01. Mansard Roof
02. Oxford Comma
03. A-Punk
04. Cape Cod Kwassa Kwassa
05. M79
06. Campus
07. Bryn
08. One (Blake's Got A New Face)
09. I Stand Corrected
10. Walcott
11. The Kids Don't Stand A Chance

Vampire Weekend

Top 20 - #18 - Live - Mental Jewelry (1991)

Como uma banda que começa uma trajetória se nomeia como "Black Bonzo"? De toda forma, vou checar.

Um clássico. Simplesmente um clássico. Em 1991, o chamado "Rock Alternativo" ainda não era uma alcunha muito usada, até onde eu sei. Nos EUA o mundo estava sendo sacudido pelo movimento Grunge, Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains num outro momento, entre outros. Eis que, em York, Pensilvânia, surge o Live. Formada no ano de 1989, por Ed Kowalczyk, Chad Taylor, Patrick Dahlheimer e Chad Gracey. Segundo Ed Kowalczyk, o nome da banda foi escolhido por acaso. Eles colocaram vários nomes no papel, dobraram e colocaram num boné. Live foi o nome sorteado. A maioria de suas músicas falam sobre questionamentos sociais, amor e liberdade.

Esse registro em questão é o primeiro da banda. Um marco na carreira do Live, Muitas das músicas são baseadas nos escritos do filósofo indiano Jiddu Krishnamurti. O indiano constantemente ressaltou a necessidade de uma revolução na psique de cada ser humano e enfatizou que tal revolução não poderia ser levada a cabo por nenhuma entidade externa seja religiosa, política ou social.

O som do Live, falando um pouco dele, é sem delongas. Rock/Pop clássico, com letras bem montadas, refrões grudentos ao extremo, que aparecem na sua cabeça quando você tá naquele ônibus cheio, e precisa de um desconto da vida desgraçada. Atualmente chamam o Live de Post-Grunge. Porra nenhuma. Guitarras melodiosas, aliadas ao excelente vocal do carequinha Ed Kowalczyk, fazem do Live um som para se ouvir em qualquer lugar. As canções diferem demais, e ao mesmo tempo têm identidade. Canções mais depressivas, mais velozes e agressivas. Tem pra qualquer freguês.

As duas primeiras faixas do CD são os maiores destaques. Pain Lies On the Riverside e Operation Spirit dão o tom da complexidade que você não espera de uma banda que faz um som aparentemente simples. Mirror Song é mais calma, melancólica. Introspectiva. E é assim que é ouvir o Live: Uma montanha-russa. Um disco fantástico, recheado de feeling e competência técnica. Como disse, clássico!

Live - Mental Jewerly



Boas novas vindo da Escandinávia, e não são sacrificadores de cordeirinhos que cantam em antigos idiomas pagãos e estupram ninfas no meio dos bosques. Apesar do nome de ração, o Black Bonzo desce redondinho. Na nova safra das bandas que andam enchendo a cara de rock progressivo, promovendo um revival dos 70's, o septeto sueco merece uma grande estrelinha na testa. Uriah Heep, King Crimson, Pink Floyd, tá tudo aqui, com aquela beleza de pegada hard rock que fazia a festa dos bangers da época. Tem um pé na temática nerd, mas sem levar a sério (mas também sem usar pra fazer figurino, como o Wolfmother).

O disco já abre com uma lapada fenomenal, na faixa-semi-título "Guillotine Drama". Já entram assustando e a faixa muito me lembra a igualmente sensacional "Aberinkula", com sua pegada meio circense, que, coincidentemente, abre o The Bedlam In Goliath, do Mars Volta. As bandas até tem algumas semelhanças no estilo (numericamente também), mas o Black Bonzo irá agradar a parcela que prefere um som mais limpo e menos caótico. O vocal de Magnus Lindgren tem um timbre parecido com o de Maynard James Keenan, do Tool.

Os interlúdios acústicos clássicos da década de 70 também estão presentes nesse álbum, como na faixa "War Machine". E é só petardo. Um discaço, pra ouvir junto com seu coroa cabeludo.

01. Guillotine Drama
02. Because I Love You
03. Zephyr
04. Sudden Changer
05. War Machine
06. Hou Do You Feel?
07. Tell Me The Truth
08. Nest Of Vipers
09. Supersonic Man

Blind Guardian - Nightfall In Middle-Earth (1998)

Literatura na música? Incoerente, algo que não pode acontecer. Impossível transmitir todo o significado de um texto consagrado em um punhado de melodias, não concorda? A banda alemã de Heavy/Power Metal Blind Guardian vai contra essa visão e incorpora uma das histórias mais complexas escritas por J. R. R. Tolkien, mesmo autor de "Senhor dos Anéis", em um trabalho único. Em "Nightfall in Middle-Earth", o livro "Silmarilion" é incorporado em 22 faixas que contam sobre a Guerra das Jóias e de Morgoth, primeiro senhor negro de Arda. O material foi um marco para o grupo em 1998. CD válido tanto para fanáticos pelos livros, quanto para fãs da banda e para pessoas que ainda não estão completamente familiarizadas sobre Tolkien.

O álbum definiu a carreira do Blind Guardian. Embora pesado nos interlúdios, "Nightfall in Middle Earth" é um disco forte que tem suas reviravoltas. Feito para ser escutado por completo, o sexto álbum da banda é talvez o melhor trabalho dos mesmos até hoje.

Com sua formação clássica, o Blind contou nesse disco, fora os músicos convidados, com Hansi Kürsch nos vocais, Marcus Siepen nas guitarras, Andre Olbrich nas guitarras de base e Thomas Stauch na bateria. Cada faixa do disco conta de forma cronológica os acontecimentos do Silmarillion. Em 1998 o uso de textos integrais em obras musicais era ainda pouco usado. Fora o Blind Guardian, talvez apenas o Summoning também se baseasse inteiramente em Tolkien.

A primeira faixa, War Of Wrath, por exemplo, fala sobre o conselho de Sauron a seu mestre Morgoth de fugir dos triunfantes valar na Guerra da Ira. Morgoth envia-o para longe e reflete sobre os acontecimentos que levaram à sua derrota. Toda faixa tem sua explicação. Mas isso não impede que quem não seja tão fã de Tolkien, como este que vos escreve, escute o disco. Essa obra-prima tem alguns petardos que se tornaram hinos dentro do Heavy Metal, como Into The Storm, Nightfall, Mirror Mirror, Time Stands Still, entre outros.

Do tempo que o Blind Guardian não fazia "música de elevador", esse trabalho mostra que o Power Metal não precisa ser gay, com coros que duram 10 minutos, e que pode sim ser direto, potente, e mesmo assim fazer uso de orquestrações e teclados. Os vocais de Hansi estão no auge, e a bateria de Stauch, que atualmente não está mais na banda, é matadora. O disco é completo. Um marco na música, e que está no hall dos melhores. Para o amante do bom Power Metal, obrigatório. Para o amante da boa música... Obrigatório?



Blind Guardian - Nightfall In Middle-Earth

John Frusciante é um cara inquieto. O guitarrista do Red Hot Chilli Peppers mantém vários projetos solo paralelamente à banda. Um deles foi (de "não é mais") o Ataxia, que formou junto com Joe Lally, do Fugazi, no baixo e Josh Klinghoffer do The Bycicle Thief nas panelas. A banda teve uma carreira breve, durando dois shows e dois álbuns, escritos e gravados em duas semanas, porém com um intervalo de lançamento de 3 anos entre eles.

Sobre o som, é seco e direto. O bom e velho trio guitarra-baixo-bateria, sem firula. Muito lembra o Shellac, de Steve Albini, que em breve eu solto por aqui. É noise, guitarras agudas e baixo ribombante, pulando na caixa de tão grave. Todas as faixas tem uma levada pesada, lenta e arrastada, mas extremamente relaxante.

Frusciante aparece nos vocais em "Dust", "The Sides" e "Addition", enquanto Lally canta em "Montreal" e Klinghoffer assume o microfone em "Another". Não dá pra destacar nenhuma faixa, pois é um álbum homogeneamente bom. Mas a minha preferida é "The Sides". É uma pena o projeto ter sido descontinuado. Porque se eles conseguiram escrever um álbum acima da média em meras duas semanas (não ouvi o AW II, com o restante das músicas), ainda tinha muito coelho pra sair dessa cartola. Mas fica o registro.

01. Dust
02. Another
03. The Sides
04. Addition
05. Montreal

Ataxia - Automatic Writing

Top 20 - #19 - Therion - Gothic Kabbalah (2007)

Taí, fiquei curioso pelo Silvio Rodríguez. Vou dar uma sacada e, se curtir, faço uma baladinha cubana, ai ai ai!

O Therion é uma banda, antes de tudo, imprevisível. Seja nas constantes mudanças em sua formação, que conta com o fundador Christofer Johnsson como único representante inicial. Fora ele, a banda é uma verdadeira concha de retalhos, com diversos músicos convidados ou contratados para turnês ou até mesmo gravação de discos oficiais de estúdio. O que poderia ser algo nocivo para qualquer outra banda, soou interessante no Therion. A banda sempre se reinventou, sempre buscou ultrapassar limites e, como sempre, ser original. Por mais paradoxal que essa última frase possa parecer.

Mas, mesmo imprevisível, a banda consegue deter algumas características que a classificam como "singular" ou "inovadora". Em 1989, lançando sua primeira demo, o Therion ainda era chamado de Blitzkrieg, e detinha uma sonoridade mais agressiva, mais relacionada com o Death Metal. A virada começou a acontecer em 1992, com o lançamento de Beyond Sanctorum, onde a banda começou a usar vocais limpos, teclados e instrumentos do Oriente Médio.

O álbum Theli lançado em 1996, consagra a banda como precursora de um novo estilo musical que ia além do Heavy Metal. As letras inspiradas em livros e vivências de Christofer, foram escritas muito tempo antes, mas a banda ainda não havia alcançado a maturidade necessária para que estas faixas fossem gravadas.

A partir daí, a banda começou a mesclar algo que era incomum para a época: Orquestras sinfônicas como parte integrante do disco, e não como "participação especial", além de cantos gregorianos e coros medievais. Na metade da década de 1990, isso ainda era visto como novidade e desconfiança. O Therion, entre outras bandas, foi a banda responsável pela disseminação dessa fusão do Heavy Metal com outros gêneros musicais.

O Gothic Kabbalah não é o melhor disco do Therion, mas é um marco na carreira da banda, pelo supremo uso de orquestrações, e do vocal potente de Mats Levén, consagrado vocalista, que tem uma participação espetacular no CD. O disco é uma fusão de tudo o que a banda já usou, ao longo de 20 anos de estrada: Passagens Black Metal; pura música clássica, música ambiente, gestas medievais.
Ouvir o Therion é sempre uma redescoberta, a cada acorde. Quem der uma sacada nisso, vá com certeza que não ouvirá clichês.

Disco 1
Disco 2
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