Antes de lançar seu primeiro disco, Dias Y Flores, o cubano Silvio Rodriguez já havia composto dezenas de canções, nas décadas de 60 e 70. Grande parte delas foi escrita enquanto esteve trabalhando durante 5 meses de 1969 em um barco de pesca. E esse período está registrado nesse álbum - que não consta na discografia oficial, mas é - entitulado Cuando Digo Futuro, onde ele viaja entre a tradicional e suingada música cubana e o rock, prezando pelo intimismo do movimento da Nueva Trova Cubana, do qual fez parte e seria o equivalente à bossa nova ou a tropicália. E junto com seu comparsa Pablo Milanes, formavam uma espécie de Gil e Caetano hispânicos.

O disco abre com "Ojala", talvez seu maior sucesso. A letra é espetacular, na sua dicotomia atração-repulsa:

Ojalá se te acabé la mirada constante, la palabra precisa, la sonrisa perfecta
Ojalá pase algo que te borre de pronto
Una luz cegadora, un disparo de nieve
Ojalá por lo menos que me lleve la muerte
Para no verte tanto, para no verte siempre
En todos los segundos
En todas las visiones
Ojalá que no pueda tocarte ni en canciones

Depois passa para a roqueira "Fusil Contra Fusil", feita em homenagem a Che Guevara (a música fecha a parte I do filme). Daí, segue para a homônima "Cuando Digo Futuro", que é uma delícia, um suingue raro, impossível de manter os pés parados. E quando ela acaba e você pensa que vai sentar pra descansar, eis que chega "Cancion De La Nueva Escuela" e seu clima de cabaré. Na sequência, aparece "Era Esta Pariendo Un Corazón", mais um rockzinho para Che. O disco também tem minha música preferida dele, "De La Ausencia Y De Ti", que tem uma letra épica, perfeita. E fecha com a emocionante "De Una Vez", num dueto de Silvio com Pablo Milanés.

01. Ojala
02. Fusil Contra Fusil
03. Cuando Digo Futuro
04. Cancion De La Nueva Escuela
05. Era Esta Pariendo Un Corazon
06. Cancion Del Elegido
07. De La Ausencia Y De Ti, Velia
08. Oveja Negra
09. Cuba Va
10. De Una Vez

Vintersorg - The Focusing Blur (2004)

Detesto Beatles e, por tabela, detesto quem se inspira nos Beatles.

Andreas Hedlund, mais conhecido como Vintersorg, é mais um exemplo desses músicos prolíficos que existem dentro da música, e que conseguem ter uma carreira bem diversificada, nos projetos de sonoridade mais diferentes entre si que se pode imaginar. Vintersorg trabalha ou trabalhou em, pelo menos, 8 projetos diferentes. Alguns com uma repercussão imensa dentro do Metal, como o Borknagar, seu projeto homônimo, ou o Otyg. Todos totalmente diferentes, mas que mostram, ainda sim, a genialidade e técnica deste músico sueco.

Vintersorg escapa um pouco ao estigma que acabou recaindo sobre a Suécia, como um país exportador de bandas de Death/Black e, num momento posterior, no celeiro de bandas do chamado Melodic Death Metal, que tem como maiores representantes, entre outros, Arch Enemy, In Flames e At The Gates. Ele é um músico que passeia do Black Metal Sinfônico do Borknagar, até o experimentalismo Folk do "Vintersorg". Sempre buscando inovações e sem medo de arriscar, Vintersorg pode ser chamado de tudo, menos de repetitivo.

O disco analisado aqui em questão é o 5º da carreira desse projeto que, fora o Borknagar, é o mais conhecido do músico. O ideal seria ouvir desde o primeiro registro, porque nenhum trabalho de Vintersorg é igual ao outro. Muito pelo contrário, é sempre uma descoberta, mesmo para os fãs mais ardorosos, ouvir cada novo trabalho. Nesse trabalho, o músico explora as teorias científicas e sociológicas a respeito da criação do universo, bem como a visão popular a respeito de tal temática. Um pouco de cosmogonia, astronomia, são claramente perceptíveis.

Microscopical Macrocosm e Dark Matter Mystery (Blackbody Spectrum) são as duas melhores faixas do CD, falam, como se pode perceber nos títulos, sobre matéria escura, e um pouco sobre a teoria das cordas, que tenta explicar a origem e a disposição do universo. Tudo isso regado ao uso dos mais diversos instrumentos musicais, como sintetizadores, saxofones e violinos, isso pra citar alguns. Os vocais perambulam entre o gutural e o rasgado, até músicas praticamente declamadas, bem como passagens de tratados sobre astronomia.

As guitarras, além do uso dos sintetizadores, já mencionado, são protagonistas, com afinação alta, chegando a agudos absurdos, mas sem abusar dos solos. Mas o mais característico de tudo é simplesmente o vocal de Vintersorg. Não dá pra explicar. Você tem que ouvir. Uma obra prima da música experimental.

Veredicto do Paulo
O cara que não gosta de Beatles só pode ser revoltado mesmo. Fica ouvindo essa galera cujos nomes são impronunciáveis, moram em casas sem janelas e sem luz e tem altares para São João de Lucifer. Esse eu vou fazer questão de baixar pra sacar qual é. Se ele começar com essa frescura de cantar feito porco, eu paro.


Here!

Sean Lennon - Friendly Fire (2006)


É, eu hei de concordar com o post do Alice In Chains. Tenho que respeitar uma das bandas do quadrilátero grunge de Seattle, sendo ela da linha mais metal, como o Soundgarden. Mas depois que Layne Staley morreu, qualquer coisa que tentem depois vai me parecer puro caça-níqueis. E a carreira solo de Cantrell, não deu certo? Eu até curtia os discos dele, mas parece que ele tava meio liso. Enfim, vamos ver no que dá.

Sean Lennon. Fui conhecer o som do cara por acaso, quando minha namorada me passou um link do YouTube de um vídeo do Smiths, e lá nos relacionados tinha o clipe de "Dead Meat", música que abre esse excelente disco. Fui dar uma sacada por curiosidade. Sim, eu sabia que o rapaz existia, mas sempre fui reticente em relação à sua existência, simplesmente por ele ser o filho do ômi, nada menos que o cara que compôs "Strawberry Fields Forever", entre outras. Daí, pra ser filho do ômi tem que sofrer nesse mundo. E foi com uma surpresa comovente que eu descobri que o cara É bom. Não bastasse isso, a voz dele é simplesmente igual à do pai. E a semelhança física também impressiona. É um John Lennon de olhos puxados, e felizmente essa foi a única coisa que ele puxou de Yoko.

Pois, o cara é um artista completo. Canta, toca todos os instrumentos possíveis, produz, escreve, pinta, a porra toda. John ("Blasphemy! He said it again!") tem outro filho, o primogênito, Julian (ele é o Jude de "Hey Jude"), mas esse é fraco e nem merece menção. Sean enveredou para o lado mais experimental da música, bebendo de todas as fontes possíveis, incluindo (muita) música brasileira, tendo os Mutantes como uma de suas bandas favoritas. Esse Friendly Fire, seu terceiro disco, é considerado seu trabalho mais maduro. Pra mim, o mais homogêneo e depressivo. São melodias pop bem suaves pontuadas por guitarras tristonhas. Muito me lembrou o Diorama, do Silverchair, em seu romantismo exacerbado. Mas o disco tem seus momentos mais alegrinhos, como em "Spectacle", a baladinha mais caramelada daqui. "Tomorrow" segue a mesma linha, mas parece música de sala de dança de cruzeiro. "Headlights" poderia ter facilmente saído de "A Hard Day's Night".

Mas é em faixas como "Would I Be The One", "Dead Meat" e "Friendly Fire" que ele mostra sua personalidade, destoando do próprio pai. "Falling Out Of Love", a faixa que encerra a bolacha, começa bonitinha, baladinha, pianinho, mas vai ganhando ares dramáticos ao chegar no refrão, com um riff suicida de guitarra.

Sem dúvidas, um dos melhores discos da ala alternativa dessa década. Se não for pra baixar por ele, Sean, que baixe pelos zigotos do sobrenome em questão.

01. Dead Meat
02. Wait For Me
03. Parachute
04. Friendly Fire
05. Spectacle
06. Tomorrow
07. On Again, Off Again
08. Headlights
09. Would I Be The One
10. Falling Out Of Love

Baixe, afinal, é o filho do ômi: Sean Lennon - Friendly Fire
Bora deixar as crianças no jardim e falar de gente grande?

Apenas o nome em cima do encarte dá uma idéia da importância desse CD. É história pura. Depois de mais de 10 anos sem um registro oficial de estúdio, o Alice In Chains está de volta! A banda do lendário ex-vocalista Layne Staley, morto por overdose em 2002, retorna com o competente Black Gives Way To Blue, tendo em sua formação William DuVall nos vocais; Jerry Cantrell (é, aquele); Mike Inez no baixo e Sean Kinney na bateria. O disco, naturalmente, foi cercado de grande expectativa. Ainda existe espaço para uma banda grunge atualmente? A própria pergunta já soa errada. O Alice In Chains é muito mais do que uma simples banda grunge. A sua originalidade, coisa que eu bato muito nas bandas que comento aqui, é evidente. Esse disco mostra o constante flerte com o Heavy Metal e com o Rock Alternativo.

A primeira faixa do disco, All Secrets Known, tem uma sonoridade total início dos anos 1990, total Seattle: riffs arrastados, lentos e introdutórios, vocal "descompromissado" de DuVall e um show da bateria de Kinney. Já a segunda, Check My Brain me fez lembrar na hora de Man In The Box, mas sem soar repetido ou clichê. A letra, por sinal, é sensacional: So I found myself in the sun, oh yeah /A hell of a place to end the run, oh yeah!

Esse, aliás, é uma das maiores virtudes desse disco. Ele consegue dizer que É um autênico Alice In Chains logo nos primeiros acordes, mas sem soar mais-do-mesmo, fato muito comum em bandas que retornam depois de algum tempo no limbo.

A criatividade está em alta. O disco tem músicas para todos os gostos. Grunge, autêntico Heavy Metal, riffs de psicodelia pura e um vocal que, se não é igual ao de Stanley (nem poderia) conseguiu, já no primeiro registro de estúdio, encontrar sua própria identidade, encontrando a harmônia necessária para o que a banda se propõe.

A terceira faixa, Last Of My Kind, é violenta. Os vocais continuam arrastados, técnicos (DuVall é realmente um espetáculo a parte. Que achado!), mas os riffs são mais crus, na veia do Metal Tradicional. Não irei descrever faixa a faixa aqui. Essas três primeiras foram apenas para dar o aperitivo de um disco que não pode faltar no acervo de todo bom ouvinte de Rock. Não se pode dizer que o disco é excelente. Afinal, para uma banda que tem Dirt e Facelift, tem que ser monstruoso, mas poderia ser o marco de qualquer outra banda menor.

Grande disco. A altura da banda. Difícil de ouvir nas primeiras vezes. Mas insista. E claro, escute a última faixa, homônima ao álbum, e se delicie com Elton John como convidado especial, nos teclados. Nikita!

Alice In Chains - Black Gives Way To Blue
Senha: uouwww.com

Cold War Kids - Robbers And Cowards (2006)

Istivuilson é um pederasta. A demagogia dele em algumas letras enche o saco. Por isso, vou colocar uma banda mais adequada aos bons costumes da sociedade. A americana Cold War Kids tem um som peculiar. Pela voz aguda e batida estacada, eu diria que a banda que mais se aproxima ao estilo deles é o White Stripes. Mas os meninos da guerra fria são mais trabalhados. O piano/teclado adiciona uma suavidade mais pop às suas músicas, que soam meio anos 70, com um pé na Europa. Bateria e baixo abafados completam o ambiente e ribombam na segunda faixa, "Hang Me Up To Dry". "Tell Me In The Morning" soa complemante deslocada no tempo, uma coisa meio Londres '79. "Passing The Hat" tem algo meio de cigano, pra mim. É uma delícia. "Saint John" parece uma canção tradicional irlandesa. "Hospital Bed" é minha preferida do disco, com seu clima de hospital vazio. Na verdade, ignorando a letra, dá a impressão de um cara que cagou no pau e ninguém quer visitá-lo. Ela é triste, muito triste. "Red Wine, Sucess" é como se fosse a saída do cara do hospital e sua comemoração solitária em casa, mandando todos tomarem no reto. Ele, então, enche a cara e em "God, Make Up Your Mind" chega a lombra.

Um bom disco, nada de excelente, mas bastante divertido. Vale gastar uma horinha nele de vez em quando, sem dúvidas.

01. We Used To Vacation
02. Hang Me Up To Dry
03. Tell Me In The Morning
04. Hair Down
05. Passing The Hat
06. Saint John
07. Robbers
08. Hospital Bed
09. Pregnant
10. Red Wine, Sucess!
11. God, Make Up Your Mind
12. Rubidoux

Blackfield - Blackfield (2004)

Dizem que uma música boa ultrapassa qualquer classificação ou rotulação reducionista. Isso vale, também, de modo geral, para bandas ou determinados artistas. Isso vale duplamente para esse post. O Blackfield, que se iniciou em 2000, é uma colaboração do músico e produtor musical inglês Steven Wilson, juntamente com o músico e compositor israelense Aviv Geffen. O som da banda ultrapassa as barreiras da rotulação convencional.


A banda toca uma música Pop de excelentíssima qualidade, combinando elementos de música Folk inglesa (Perfect World), Metal tradicional (Once) em determinados riffs, além do uso de instrumentos do Oriente Médio, o que deixam a sonoridade ainda mais atraente. Essa profusão de ritmos se deve, em muito, ao universo quase infinito de atuação dos dois músicos. Steven Wilson é produtor de grandes bandas no cenário Metal, como o Opeth, Katatonia, além de participar (e comandar) diversos outros projetos musicais, em vertentes distintas, como o No-Man (música ambiente), Porcupine Tree (Rock Psicodélico e de diversas influências), Orphaned Land (produtor), além de outros 3 ou 4 projetos de menor expressão.

O Blackfield tem dois discos lançados. Um disco homônimo, de 2004, e Blackfield II, de 2007. O primeiro, que é o que está sendo analisado em questão, detem uma sonoridade um pouco mais melódica do que o segundo, que soa mais agressivo e com mais influências do Rock 'n' Roll/Metal. Esse primeiro material, segundo Steven Wilson, remonta ao primeiro encontro que tive com o Aviv, onde vimos que nossas concepções acerca de música batiam de forma significativa, e começamos o projeto.

O que se percebe quando se ouve o disco apenas uma vez, é uma explosão criativa, com letras de cunho pessoal, falando acerca de desilusões, sociedade, amores e a força da amizade em momentos de decepções, além da vida em sociedade em geral. O Blackfield é uma prova cabal de que música Pop (considerada mais "acessível" musicalmente, embora eu não saiba muito bem o que isso quer dizer) não precisa ser entupida de peitos siliconados (nada contra eles) nem parcerias com rappers com dentes de ouro (tudo contra eles), e não precisa ser recheada apenas de "baby" ou afins.

Pode sim ser prolífica, criativa e bastante bem produzida. O disco ganhou diversos prêmios quando foi lançado, o que, para um projeto que tinha por intenção ser apenas um "desafogo" dos dois músicos, é bastante recompensador. Músicas como Open Mind, Blackfield, Hello e Pain dão a cara do que é a banda. Não existem líderes ou hierarquias. Uma hora, Steven Wilson canta, outra hora, Aviv Geffen, outra hora, ambos. É tudo muito harmônico e sincero, e isso, obviamente, transparece para quem ouve.

Uma música sincera, recheada de feeling, e com músicos completos e técnicos. O Blackfield é uma de minhas bandas preferidas. Dê uma sacada, e se gostar, entre no mundo paralelo de Steven Wilson.

Download here.


Dá pra mim, não. Esse som aí de baixo é de um mundo onde Tolkkien bota o terror e picha nas muralhas dos castelos: "Frodo comanda". Não, não. Eu gosto do mundo real. Mesmo que esse seja na Argentina, onde fazer-lhe um elogio equivale a um pacto com o tranca-rua. Mas preciso admitir que os coitados tem lá seu valor musical. E uma das marav... bandas razoáveis daquele descampado chama-se The Baseball Furies. Nada de elfos, feiticeiros, magos, hobbits, faggots. Só gente do espaço, o bom e velho povo alien. Mas atemos-nos ao som. Coisa fina, ainda mais se considerarmos que é feito por uns pirralhos sub-20. Inspirados pelo space-rock de monstros do gênero como o Spiritualized e o Spacemen 3, eles criam um clima denso, com muitos reverbs e delays e guitarras preenchendo toda a abóbada celeste (profundo). Essa é uma das melhores bandas que ouvi nos últimos anos. Enchi o saco do pessoal do Coquetel Molotov para trazer os pibes à Recife. Eles - o Furies - enchiam o meu, perguntando se havia mesmo alguma chance. Fica pra próxima.

Tem algo de anos 80 no som deles. Som de cartazes cheios de neon, de futuro, de cometa Halley. Tem gosto de Atari, de nostalgia, de joystick de manche. Estrelas no teto do carro, viajando na velocidade do som. Ah, a manjada velocidade do som, sinônimo de raios laser atravessando o carro. A bateria ecoa por todos os lados. O vocal pós-puberdade não é grande coisa, mas se encaixa no perfil. "Landscape", "Star Dealers" e "Escape From Popperland" prezam pela atmosfera. A última, na minha pouco humilde opinião, é a melhor do EP. "Adeus, planeta Terra. Preciso retornar à minha terra natal. Obrigado pelo conhecimento adquirido". "The Sad Mercurian" é uma balada inocente, mas com refrão forte e pegajoso, enquanto "A Rather Aggressive Atmospheric Fluctuation" é a mais balançante do disco, com suas guitarras dobradas, multiplicadas.

Um dos melhores sons para se ouvir deitado no chão numa sexta-feira solitária. Certamente você não se sentirá só. Uma obra-prima - quem diria - argentina.

01. Landscape
02. Star Dealers
03. The Sad Mercurian
04. A Rather Aggressive Atmospheric Fluctuation
05. Escape From Popperland

Pode baixar no site da gravadora: The Baseball Furies
Nego acha que só porque a banda foi uma das primeiras a usar sintetizadores e outros instrumentos incomuns à época, quer dizer que o fizeram com maestria. Muito pelo contrário. Os primeiros exemplares de um movimento sempre são toscos ou, no mínimo e obviamente, inexperientes. Uma sonoridade que parece um baile de carnaval; tudo muito "feliz", que causa enjôo (foda-se a reforma ortográfica) com apenas alguns minutos de audição.

Se é pra falar em vanguardismo, falemos num CD que, proveniente de um show épico, transformou-se no maior registro ao vivo do Metal até agora. O Iced Earth é uma banda norte-americana, que passou por muitas mudanças em sua formação ao longo de seus 24 anos de carreira. Mas a espinha dorsal da banda sempre se manteve em seu "dono", o marrento, porém espetacular guitarrista Jon Schaffer. Mas, sem dúvida, a melhor época da banda, seu auge técnico e criativo se deu com a parceria de Jon com o vocalista Matt Barlow. Juntos, gravaram clássicos do Heavy Metal, como The Dark Saga, Something Wicked This Way Comes e Horror Show.

Mas sem nem pestanejar, a coroação da banda veio no show em Atenas, Grécia, no ano de 1999. Um show de mais de 3 horas de duração, que serviu como uma retrospectiva do Iced durante todos os anos de caminhada. A banda revisitou toda a sua carreira, com hinos como A Question of Heaven, Watching Over Me, Angels Holocaust, Dark Saga, The Hunter, Dante's Inferno, entre outros, tendo o show um resultado tão esplêndido, que o mesmo foi transformado em DVD, tendo apenas três câmeras funcioando durante o show, o que garantiu uma produção extremamente porca, tendo o desagravo de Jon Schaffer. Mas é compreensível: Um registro autêntico, de uma banda que, ao contrário de outras, não precisa de nada mais do que um palco, instrumentos musicais, e vontade de tocar. O Iced Earth, nesse show, mostrou a verdadeira essência da música: Honestidade e respeito pelos fãs, e pelo trabalho realizado.

Riffs potentes; o vocal de Barlow no seu auge, sendo o mesmo considerado o melhor vocalista de Heavy Metal do ano de 1999 por revistas especializadas e até mesmo por fãs de outras bandas, e a formação daquela época extremamente entrosada, com Matt Barlow nos vocais, Larry Tarnowski nas guitarras solo, Jon Schaffer nos backing vocals e guitarra, o grande James MacDonough no baixom, Brent Smedley na bateria, Rick Risberg nos teclados, fizeram o sortudo público grego delirar.

Uma espécie de "cereja no bolo" de uma banda que sofreu demais pelo egocentrismo de seu líder e, como consequência disso, constantes mudanças de formação. Mas que, nesse registro, conseguiu demonstrar, que com o básico (?) pode-se produzir monstros musicais. Se você curte um som autêntico, sem frescuras alternativas e alegrinhas, procure esse material do Iced e, se gostar, pegue o ao vivo. E quando ouvir A Question of Heaven, entenda o que estou dizendo.

Alive In Athens: 1, 2, 3, 4, 5, 6

King Crimson - Lizard (1970)


Progressivo blablabla. Uns carinhas plagiando música celta do século XII e achando que fazem algo grandioso. Um bando de nerd que, não bastasse evocar umas bruxas e deuses pagãos, ainda se vestem como há 800 e tantos anos atrás. Vão ali jogar meia hora de RPG.

Essa vertente trovadora do progressivo eu ignoro. Não acrescenta nada. O estilo surgiu como algo inovador, não apenas fundindo a música clássica ao rock, mas desenvolvendo um extenso trabalho de composição que incluía constantes variações de tempo, utilização de instrumentos sinfônicos de cordas e metais e utilização de cálculos matemáticos, o que produziu, principalmente nos anos 70, canções tecnicamente riquíssimas.

Muita gente fala do Pink Floyd, do Yes, do Jethro Tull, do Genesis e acaba deixando de lado a melhor banda do gênero: King Crimson. Eles possuíam todas as características supracitadas e, como se não bastasse, eram excelentes músicos (tá, eles ainda tocam, mas estou me referindo aos anos 70). Enquanto o Yes parecia confortável em seu lugar-comum e com um vocalista irritante, o Pink Floyd soava demasiadamente pop, o Tull mais parecia uma caricatura de seu vocalista e o Genesis perdia terreno com a saída de Peter Gabriel, o Crimson, com todas as mudanças de formação, sempre soava diferente, como se fosse uma nova banda a cada disco.

Lizard é o terceiro álbum do King Crimson e, pra mim, o mais divertido. Aqui, eles abusam do uso de sintetizadores, mellotrons e muitos metais, deixando as guitarras em segundo plano. O disco começa com o ar grave de "Cirkus", com seus violões e metais, pero sin perder la ternura. O trompete no final da música é sensacional. "Indoor Games" é uma das minhas 5 músicas preferidas deles, a começar pelo título inusitado. Ela parece um dia de domingo no parque, com a família fazendo piquenique em cima da toalha quadriculada. "Happy Family", logo, acaba sendo uma continuação, com o mesmo clima ameno. "Lady Of The Dancing Water" é mais melódica e tranquila, como o fim da tarde do domingo. "Lizard" é o grande épico que fecha o álbum, com seus 23 minutos. A música viaja por várias trilhas, pequenas músicas dentro dela mesma.

Sem dúvidas, um dos melhores e mais curiosos álbuns do Crimson, pela sua ousadia, sua inovação. Enquanto outras bandas estavam mais preocupadas em reciclar, eles, sob a tutela de seu dono, Robert Fripp, quebravam a cabeça para criar.

01. Cirkus
02. Indoor Games
03. Happy Family
04. Lady Of The Dancing Water
05. Lizard

King Crimson - Lizard
Já que o amante de nigga Hip-Hop começou a dissecar seu Top-Top, com bandas indie e metidas a progressivas, também entro na onda. Puta coisa de quem via o Top-Top da MTV, muito provavelmente só por causa da tetéia da Marina Person.

Esse meu Top-20 é feito com base nas bandas que mais ouvi, de 2004 pra cá. Claro que, entre elas, estão as minhas bandas favoritas, mas esse critério é apenas o da audição. Portanto, vai a vigésima banda mais ouvida.

Não se conhece progressivo, na real acepção da palavra, até ouvir qualquer trabalho do Falkenbach. A banda é islandesa, mas a atual residência do one-man-band é na Alemanha. Isso, a banda tem apenas um integrante. Vratyas Vakyas é o compositor, produtor e mentor de todo o trabalho da banda, da música ao encarte.

O Falkenbach começou em 1989, e até 1995 apenas 3 demos haviam sido lançadas. Mas, apesar disso, o som da banda se caracteriza pelo apego à cultura popular nórdica e pela originalidade. Apesar de muitas das músicas serem escritas em inglês, a maioria das composições rementem ao escandinavo antigo, Latim e alemão arcaico, tornando assim o som ainda mais peculiar e atraente.

Vratyas classificou seu som como "Folk/Viking, com mesclas de Black Metal dos anos 1990."Eu discordo do criador, e dane-se se o mesmo não concorda. O Falkenbach bebe muito também da música clássica, principalmente em Richard Wagner, no seu Anel do Nibelungo, como também em canções populares nórdicas. O trabalho é classificado como "Folk" justamente por isso. Folk advém de "Folklore".

O som busca, de forma uniforme em todos os trabalhos, retratar mitos antigos da Escandinávia, sempre com o uso de muitas flautas, gaitas e passagens atmosféricas, fazendo um singelo uso de sintetizadores. Heralding: The Fireblade é o último trabalho da banda, de 2005. Vratyas, apesar do hiato de quase 5 anos, diz que está trabalhando em um novo álbum, mas que o mesmo não tem data pra sair. Afinal, de que adianta ser prolífico e lançar mais-do-mesmo? Cada obra do Falkenbach é uma obra de arte, que demora a ser entendida, mas que é imediatamente apreciada.

Um som único, que une música clássica, canções populares e Black Metal, trazendo nessa profusão de estilos aparentemente insoluvéis, sua maior característica. Canções como Havamal ou Heathen Foray trazem a tona todo o embate dos povos nórdicos, quando sua cultura entrou em contato com o Cristianismo, ainda na Idade Média, e como foi esse processo de aculturação. Ouvir Falkenbach é, ainda por cima, uma aula de História. Mas se você não quer ter aula enquanto escuta uma música foda, não se preocupe: Simplesmente deixe a sonoridade de Vratyas adentrar seus ouvidos, sem maiores preocupações, e sinta-se dentro de um uma outra realidade.

  1. "Heathen Foray"
  2. "...Of Forests Unknown..."
  3. "Havamal"
  4. "Roman Land"
  5. "Heralder"
  6. "Laeknishendr"
  7. "Walkiesjar"
  8. "Skirnir"
  9. "Gjallar"
Download? Manda bala!




Antes que os carnívoros do metal baixem por aqui de novo, vou soltar um clássico do cancioneiro norte-americano. Música de VERDADE, sabe? Porque essa galera acha que ganha quem grita mais alto. Eu acho que isso funciona só até a 5ª série. Pois, o Morphine foi uma das bandas mais prolíficas dos anos 90. Mark Sandman era a grande cabeça por trás da grande sacada da banda, que era misturar jazz e blues ao rock. Até aí, nada original. Mas trocar a guitarra por um saxofone e manter a pegada é um feito memorável. E eles conseguiram isso com maestria.

Sandman era o baixista da banda e costumava tocar seu instrumento (o baixo) com apenas duas cordas. E ainda assim, o som saltava gravemente, com técnica refinada. Já tinha ouvido falar do Morphine desde a época que eles ainda tocavam, mas só resolvi ouvi-la há dois anos atrás, pois antigamente tinha preconceito - quase um TOC - com bandas que não tinham guitarra.

Esse é o terceiro da banda e, na minha opinião - que aqui tem valor divino - o melhor dos caras. Se eu fosse eleger um disco para passar uma noite inteira na base do whisky - bebida que não passa pela minha laringe - certamente seria esse. Afundaria numa poltrona gigante, com aparador ao lado e uma garrafa de Jack Daniel's. O Morphine, aqui, consegue ir do depressivo ao dançante com um simples toque no FF do seu som.

A faixa que abre o disco, "Honey White", é das mais agitadas e animaria qualquer festa. "Scratch" é divertida, mas começa a ter uns traços de melancolia. "Radar" tem uma batida sólida, pesada. Em "Whisper" a pressão começa a cair e você começa a se sentir só, com seu copo quase sem gelo. O piano grave faz você querer ligar para a recepção do flat e pedir para ficar conversando com a recepcionista. A faixa-título é quase uma vinheta, bem divertida. Já dá pra levantar, estalando os dedos, e pegar um tubo de Pringles. "All Your Way" é bem pra cima e tem um riff legal de sax. "Super Sex" é minha preferida. O refrão dá vontade de bater cabeça com o copo na mão, derramando tudo no chão. Totalmente sex, drugs & rock n' roll, literalmente. É onde o vocal de Sandman mais se destaca no disco. "I Had My Chance" vai lhe nocautear de volta pra poltrona, pra encher o copo que derramou no carpete. É, de longe, a música mais melancólica do disco. Se você não virar o copo até o fim da música, vai chegar até "The Jury", a faixa experimental, nada mais que Sandman falando a letra com um fundo musical distante. E esse fundo, com a interpretação dele, dá um ar cinematográfico e perturbador à canção. Muito boa. "Sharks" é a próxima, anunciando a parte final do disco. É a mais veloz que você vai ouvir. "Free Love" é a que mais se aproxima de um metal. Ela é lenta, densa e arrastada, levada o tempo todo na condução da bateria. E, pra encerrar o pão sírio, "Gone For Good" é a balada que tira todo o peso das outras 11 faixas e faz você levantar da poltrona para escovar os dentes e ir dormir.

Mark Sandman morreu durante um show na Itália, em 99, aos 46 anos, vítima de um fulminante ataque cardíaco.

01. Honey White
02. Scratch
03. Radar
04. Whisper
05. Yes
06. All Your Way
07. Super Sex
08. I Had My Chance
09. The Jury
10. Sharks
11. Free Love
12. Gone For Good

Vale o download: Morphine - Yes

Army Of The Pharaohs - Ritual Of Battle (2007)


Aí o cara acha que uns sujeitos que fazem cosplay de vampirinhos metem medo em alguém. Esse Powerwolf tá mais pra fantasia de halloween de festinha de cursinho de inglês. Reverenciar Satanás, beber sangue e matar cordeiros são clichês ultrapassados. Isso não assusta mais ninguém, só as mães beatas dos pobres filhos que ouvem isso. Quer som pra botar medo, sentir a real? Army Of The Pharaohs.

Odeio hip-hop. Acho uma coisa repetitiva e sem criatividade musical alguma. Mas os carinhas aí fazem hip-hop do mal, não aquele hip-hop de rico, com os negões esbanjando suas pratas e Lamborghinis. O grupo é atualmente formado pelos MC's Paz, Kamachi, 7L & Esoteric, Outerspace, Apathy, Celph Titled, Reef the Lost Cauze, Des Devious, Faez One, Jus Allah, Doap Nixon, Demoz, King Magnetic e King Syze. É, gente pra caralho.

A temática é aquela mesma de sempre, girando em torno do próprio universo do ghetto deles, das disputas, dos rivais, do preconceito e afins. Mas o que impressiona é a riqueza dos samplers, das composições. Vai desde o funk-motown-style em "Dump The Clip" à ótima sacada de pôr uma música do jogo Castlevania no fundo de "Bloody Tears".

É som pra causar, mano. Seus vizinhos certamente não vão gostar. A parada é pesada.

01. Swords Drawn
02. Time To Rock
03. Dump The Clip
04. Black Christmas
05. Blue Steel
06. Gun Ballad
07. Strike Back
08. Frontline
09. Through Blood By Thunder
10. Murda Murda
11. Bloody Tears
12. Seven
13. Drama Theme
14. Pages In Blood
15. D And D
16. Don't Cry
Para começar, uma análise do disco Bible Of The Beast, da banda alemã de Power Metal Powerwolf. Apenas nessa frase, uma respeitável penca de clichês dentro do Metal pode ser vista e analisada. O título, mais chavão impossível; Power Metal, gênero que (sob a minha ótica) é o mais enjoativo e mais-do-mesmo dentro do Metal, principalmente sendo proveniente de uma banda alemã, que conta com representantes famosos como Rage, Sinner, Grave Digger, entre outros. Ou seja: tinha tudo para ser mais um disco animado, metido a másculo, que passaria desapercebido.

Mas não o Powerwolf. A "Bíblia da Besta" é o terceiro trabalho da banda num intervalo de 4 anos, fato esse que demonstra uma profusão criativa dos mesmos. Os outros dois trabalhos dos lobos, Return in Bloodred, de 2005, e Lupus Dei, de 2007, seguem uma linha constante: Coros, riffs do mais clássico Heavy Metal, um vocalista poderoso (Attila Dorn) e um visual, digamos, chamativo.
Mas, mesmo com os elementos clichês (ou clássicos, dependendo de quem olhe) presentes, o trabalho da banda é digno de aplausos.

Os músicos parecem estar num estado dúbio de galhofa e seriedade. Galhofa pelo vestuário e pela temática da maioria de suas composições: Vampiros. Letras como a de "Vampires Don't Die", do segundo trabalho, dão a exata temática do que se trata o Powerwolf: Músicos excelentes, técnicos e competentes, composições recheadas de feeling e inspiração, como já foi dito mais acima. E seriedade pela produção do CD, a começar pelo encarte, de extrema qualidade, e a produção e mixagem do disco: Impecáveis. O vocalista Attila Dorn é um caso a parte. Alcançando notas altíssimas, sem cair no chatíssimo estilo dos vocalistas de bandas de Power acima citados (e se você quiser enquadrar bandas medonhas como Gamma Ray, e qualquer coisa que envolva Kai Hansen, à vontade), que parecem tentar colocar algo de cilíndrico em seus retos.

Attila canta com potência, suavidade e força, mas sempre em perfeito equilíbrio com os demais integrantes da banda, como também os coros. Equilíbrio, por sinal, parece ser a tônica do Powerwolf, a exceção de sua vestimenta. A banda parece que encontrou a medida certa, pelo menos nesse começo de carreira. Resta saber se isso será suficiente, e sa banda não se tornará um Motorhead da vida, que está há 450 anos fazendo a mesma coisa.

Riffs fortes (de Matthew Greywolf, guitarrista também do Flowing Tears); vocal equilibrado, uma temática que, feita da forma que é feita, torna a audição empolgante e divertida. Se tem nego de saco cheio de Power Metal, eu sugiro: Escute Catholic In the Morning, Satanist At Night, presente no Bible Of The Beast. Se você não fizer, ao menos, um "air drums", ou balançar a cadeira, desista e vá ouvir Nx Zero.

Se quiser conferir: Rapidshare

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