Momento nostalgia. Fundo do baú. Túnel do tempo. Whatever. Tinha 15 anos quando pus as mãos no primeiro disco do
Silverchair, comprado na antológica
Vinil por meros 24 reais (e era importado). E pus as mãos com 3 anos de atraso em relação ao lançamento do disco, quando os 3 membros da banda também tinham meros 15 anos. Na verdade, eu já tinha ouvido falar do Silverchair em 96 ou 97, quando li uma nota sobre eles na
Showbizz, tecendo comparações com a minha banda preferida da época, o
Pearl Jam. Mas como o acesso à música na década passada era um tanto mais precário que hoje, não pude fazer uma comparação
do it yourself. Mas a nota falava sobre a semelhança entre as bandas, tanto no som grunge como nas letras tristes de Daniel Johns e Eddie Vedder. Isso atiçou bastante minha curiosidade, mas só pude ouvir a primeira música deles em 97 mesmo, quando vi, por acaso, o clipe de
"Tomorrow" na
MTV(quando esta era boa). Fiquei emocionado com o peso, a estrutura verso-leve-refrão-pesado tão característica do grunge - que àquela altura estava praticamente morto, com o fim do
Soundgarden e o estado lisérgico de
Layne Staley - e com o alcance vocal do então garoto espinhento Daniel. Convenhamos, é uma música do caralho.
Mas como uma gravadora resolve apostar em 3 pirralhos australianos metidos a gente grande? Simples: ganhando um concurso chamado
Pick Me, promovido por uma TV (
SBS) e uma rádio (
Triple J) australiana. Eles concorreram com a mesma "Tomorrow" e, como prêmio, a rádio regravou a canção e a ABC produziu um vídeo para os até então chamados
Innocent Criminals. No momento do lançamento do single, foi dada à banda a opção de trocar de nome. O Silverchair pode ter vindo a) de uma lista fornecida pelo seu empresário; b) de um livro de Nárnia chamado "The Silver Chair" ou c) da mistura de "Berlin Chair" do
You Am I com "Sliver" do
Nirvana.
Qualquer coisa, menos burra, a Sony logo tratou de aliciar os meninos com um contrato para 3 álbuns. Aquele single de "Tomorrow" foi lançado em agosto de 94, ficando seis semanas como #1 na
ARIA, a
Billboard australiana. Em 95, "Tomorrow" - já uma puta velha, de tão rodada - foi re-regravada e ganhou um novo vídeo para o exigente mercado americano. Resultado? A música foi a mais executada nas rádios de rock americanas nesse ano.
Senhores, então temos um fenômeno. Apressadamente, porque o tempo urge, eles entraram em estúdio para gravar esse
Frogstomp em míseros 9 dias. Isso, nove dias. E eles, repito, tinham 15 anos e ainda trocavam partituras por cadernos repletos de fórmulas químicas e redações, pois insistiam em ir à escola. E em tão tenra idade, é de surpreender o conteúdo melancólico das suas letras e composição redonda das músicas. Toda a raiva, a angústia e o queijo adolescentes estão presentes nas onze faixas. As comparações com o Pearl Jam deixaram os caras chateados, pois eles consideravam como influência o
Black Sabbath, ao invés dos fab-five de Seattle. Aliás, sobre o Frogstomp, Daniel Johns recentemente afirmou detestá-lo, assim como seu sucessor,
Freak Show, dizendo que ambos foram escritos por sua "banda de ginásio". "Eu não considero que os dois primeiros álbuns eram Silverchair. Eu os ouço e faço 'que bonitinho!', especialmente o primeiro", disse ele.
Bonitinho ou não, o disco alcançou o
Top 10 da Billboard, transformando o Silverchair na primeira banda australiano a conseguir tal feito desde o
INXS, vendendo 2.500.000 de cópias mundo afora (uma ainda é minha). Não tenho certeza, mas o som desse disco costuma ser mais alto que os demais que possuo. A distorção das guitarras e bateria aperreada contribuem bastante pra isso, desde a introdução no baixo em
"Israel's Son", que depois descamba para um Johns de voz distorcida e pegada arrastada, até chegar ao final acelerado.
"Pure Massacre" também teve clipe e também virou hit, com seu início percussivo. Destaque também para a balada
"Shade" e para a instrumental-sensacional
"Madman". O disco encerra-se de forma até alegre, com a rapidinha
"Findaway", dando números finais ao álbum. Deve ter sido a música composta em meio ao champagne do sucesso.
01. Israel's Son
02. Tomorrow
03. Faultline
04. Pure Massacre
05. Shade
06. Leave Me Now
07. Suicidal Dream
08. Madman
09. Undecided
10. Cicada
11. Findaway
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